O Estado de S. Paulo

Quase metade dos inadimplen­tes usa canais digitais

Com custos menores, fintechs avançam na cobrança de dívidas atrasadas e oferecem descontos de até 90%

- Gabriel Roca

Desemprega­do e com uma dívida que superava R$ 20 mil, o manobrista Richard Marques tentou renegociar seus débitos com o gerente do banco. Sem desconto, as parcelas oferecidas não cabiam em seu orçamento. Foram quase três anos recebendo ligações de cobrança, até descobrir, na internet, que podia conseguir condições melhores para limpar seu nome.

“Tentei negociar, mas a parcela era muito alta. A gente fica constrangi­do, porque quer pagar, mas sem emprego não dá.” Ele conta que, junto com a esposa, começou a procurar ofertas melhores. Por meio de um dos novos serviços de renegociaç­ão de dívidas na internet, fez uma proposta e obteve desconto de 92% no valor devido. Suas dívidas, que totalizava­m R$ 24 mil, foram quitadas por R$ 1.878.

Marques não está sozinho em buscar de canais digitais – portais de autonegoci­ação, chat, email, SMS, WhatsApp, Messenger e agente virtual – para renegociar pendências. Quase a metade dos brasileiro­s (48,8%) com contas em atraso já negocia por meio de canais digitais, revela pesquisa do Instituto Geoc, que reúne 16 empresas de cobrança. A enquete, que ouviu 2.434 pessoas no início do mês, mostra que no último ano houve um avanço de 20% no volume de renegociaç­ões por meio de canais digitais.

Segundo Dilson Moura de Sá, fundador da Acordo Certo, fintech que atua no segmento de renegociaç­ão de dívidas, o número de acordos firmados mais do que triplicou – de 15 mil, em janeiro, para 55 mil, em setembro. Na BLU 365, houve um aumento de 8% no número de acordos fechados em 2018, diz Natália Alexandria, diretora comercial.

O movimento motivou o relançamen­to da ferramenta de renegociaç­ão de dívidas online

da Serasa. Segundo o gerente da Serasa Consumidor, Lucas Lopes, atualmente, 27 milhões de pessoas podem renegociar suas dívidas na plataforma.

Em cerca de 90 dias, credores repassam a cobrança da dívida para empresas terceiriza­das. Com acesso aos dados do devedor, tem início o trabalho de organizaçã­o da informaçõe­s. Por meio de ferramenta­s de inteligênc­ia artificial e análise de dados, são exploradas outras formas para que o inadimplen­te renegocie a dívida. “Colocamos anúncios direcionad­os, usamos algoritmos e marketing digital para que o cliente chegue até nós”, diz Sá, da Acordo Certo. Em 60% dos acordos fechados, é o devedor quem busca a empresa para saldar dívidas.

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ANDRÉ LUCAS/ESTADÃO - 1/10/2018 Corte. Marques conseguiu desconto de 92% no valor da dívida com negociação virtual

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