Saiba quanto investir na educação e como fazer parte do aprendizado.
Análise deve ser feita ponto a ponto, em função do orçamento familiar, incluindo custos extras
Não importa se é na ponta do lápis, naquela tradicional planilha do Excel ou em um aplicativo modernoso. Educar um filho não é barato e exige um planejamento cuidadoso que garanta o melhor custobenefício. E, nesse cálculo, não há fórmula. É preciso levar em conta variáveis como renda bruta, número de filhos, disponibilidade de tempo da família, modelo de trabalho dos pais e até o sonho de futuro de cada criança.
“O custo educacional de um filho pode ser zero, ao optar pelo ensino público, ou pode chegar aos seis dígitos anualmente, em uma escola particular internacional de tempo integral”, compara Elle Braude, da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. “A família precisa conhecer bem seu orçamento e buscar comprometer uma parcela de sua renda com gastos de educação de forma saudável.”
O saudável, explica a planejadora, é investir em educação (quando se pode), mas sem deixar que haja concentração excessiva de despesas nesse item, já que existem outras contas a pagar. Além da mensalidade, ainda é preciso considerar os gastos com materiais didáticos e alimentação durante o expediente escolar. “Se o orçamento familiar fica excessivamente comprometido com uma categoria, isso pode desequilibrar a vida financeira da família. Equilíbrio é a palavra apropriada.”
Mas, como equilibrar? É exatamente nesse ponto que entra a ponderação ponto a ponto. Se o orçamento da família já está todo comprometido com gastos necessários – como aluguel, alimentação e saúde –, os especialistas recomendam a matrícula em uma escola pública e a busca por cursos extracurriculares que sejam muito importantes para a formação, como o de idio-
mas. Nesse caso, é importante garimpar para encontrar opções que caibam no bolso. Aqueles interessados em um conteúdo curricular mais aprofundado podem fazer uma pesquisa pela internet. Na própria rede, há plataformas gratuitas com conteúdo muito bem estruturado.
Agora, se a ideia é investir em um colégio privado, o ideal antes de efetuar a matrícula é ponderar os prós e os contras dos formatos disponíveis. Meio período ou integral? Convencional ou bilíngue? “Normalmente, é mais econômico pagar por evento. A criança vai para a escola e depois para o inglês, o futebol ou o balé”, explica o professor Michael Viriato, coordenador do laboratório de Finanças do Insper. Mas, se a família reside em uma grande metrópole, pondera, esse cálculo pode não fazer sentido. “O tempo e o dinheiro que são gastos nos deslocamentos fazem valer a pena pagar a mais e deixar o filho em tempo integral.”
Entretanto, a associação de ensino em período parcial com cursos extracurriculares também pode ser vantajosa para quem busca flexibilidade e tem renda variável. “Os cursos livres podem ser adequados conforme os interesses familiares. E, em caso de imprevistos financeiros, a família tem como priorizar a manutenção do ensino escolar, cortando os cursos extras até conseguir se reestruturar financeiramente”, pondera a planejadora financeira Elle Braude.
Em uma época em que o inglês já é condição para empregabilidade, garantir que os filhos cresçam fluentes é outra preocupação comum – até dos pais que aprenderam ou ainda lutam para assimilar após adultos o idioma, sob o risco de não perder oportunidades de trabalho. E, daí, entra na conta o custo de uma escola bilíngue, em média 50% mais cara do que uma monolíngue, mas em cujo ambiente o aprendizado é mais eficaz e natural.
Essa foi a escolha do empreendedor Caco Santos, que
O custo educacional de um filho pode ser zero, no ensino público, ou chegar aos seis dígitos anualmente, em uma escola particular internacional de tempo integral. A família precisa conhecer bem seu orçamento e buscar comprometer sua renda de forma saudável. Elle Braude, da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros
Projetei que o custo médio mensal de um bom colégio e de uma faculdade seria R$ 5 mil. Para os três anos do médio e os cinco do superior, iria necessitar de R$ 500 mil para cada uma (das filhas). Minha meta foi acumular metade ao longo do fundamental Allan de Souza, empreendedor que se planejou para a educação das duas filhas
De modo geral, é recomendável que os pais busquem escolas compatíveis com o seu bolso. A criança tem de conviver com uma realidade que é igual à dela, em que as famílias tenham um padrão de vida e consumo semelhante. Myrian Lund, professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas
matriculou suas duas filhas no colégio bilíngue Aubrick. Ele destina 20% do orçamento familiar para a educação de Isabella, de 14 anos, e Letícia, de 10. “Tenho ambição de enviá-las para instituições como Stanford e Harvard, então é importante investir esse dinheiro, mesmo que isso implique cortar luxos como restaurantes e aluguel de casa de campo”, conta o pai.
Além da mensalidade, o empreendedor poupa há sete anos cerca de US$ 500 por mês para cada uma das filhas com o objetivo de ajudar a custear o curso superior nos Estados Unidos. “Consideramos as anuidades dessas escolas e já trabalho com a possibilidade de negociação para conseguir valores mais atrativos.”
Planejamento. Apesar de não ser fácil nem simples (e não basta querer, é preciso ter condições), fazer um planejamento a longo prazo é a forma mais indicada de a família se preparar para custear os estudos dos filhos. “As pessoas demoram cada vez mais a se tornarem pais, o que possibilita que tenham um pouco mais de dinheiro quando chegam os filhos. Muitas vezes o suficiente para uma poupança que pode, no futuro distante, custear a faculdade”, afirma Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper.
Foi o que fez o empreendedor Allan de Souza, há cinco anos, quando as filhas Amanda e Raquel ainda cursavam o ensino fundamental. “Projetei que o custo médio mensal de um bom colégio e de uma faculdade seria por volta de R$ 5 mil. Calculei, assim, que para suprir os três anos do ensino médio e os cinco anos do superior iria necessitar de R$ 500 mil para cada uma delas. Minha meta foi acumular metade desse valor ao longo dos nove anos do ensino fundamental.” Nesse tempo, Allan guardou o dinheiro de bonificações, férias e décimo terceiro e conseguiu o montante.
Hoje, Amanda já está na faculdade e Raquel está no primeiro ano do ensino médio.
Allan, por sua vez, vai ter dinheiro sobrando na conta, já que a mais velha foi aprovada em uma universidade pública. “Acabou que fui premiado”, brinca. “Mas estava pronto para investir no futuro delas.”
Negociação. Como tudo o que envolve pagamentos, os especialistas aconselham que os pais aprendam a negociar com os colégios. Uma dica certeira é pleitear um desconto em pagamentos antecipados. “Que tal sugerir quitar o próximo ano letivo de uma vez? Estamos em setembro e a escola, como toda empresa, costuma fazer o orçamento do próximo ano nesse período. Ela precisa de dinheiro para ajustar o fluxo de caixa. Algumas oferecem 10% de abatimento em condições assim”, explica Viriato, do Insper.
Também vale tentar permutas – pode ser que a escola precise de um serviço que o pai ou a mãe podem fazer em troca da mensalidade, ou parte dela – e entender a política de bolsas da instituição. “Todas as escolas oferecem algum tipo de bolsa. Os pais não devem deixar de pesquisar, ver os pré-requisitos e condições para se habilitarem”, explica Myrian Lund, professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV). “E, nesse caso, como é comum as bolsas estarem atreladas a rendimento do aluno, a criança também tem de ser estimulada a colaborar, a ser um bom aluno.”
Por fim, advertem os especialistas, é preciso dar o passo conforme a perna. “De modo geral, é recomendável que os pais busquem escolas compatíveis com o seu bolso. A criança tem de conviver com uma realidade que é igual à dela, em que as famílias tenham um padrão de vida e consumo semelhante. Uma família de classe média que busca pôr os filhos em uma escola extremamente cara, em que os alunos viajam constantemente para o exterior, por exemplo, pode gerar frustrações na criança”, conclui Myrian.