Formação passa pela orientação socioemocional
Alunos devem ser estimulados a refletir sobre as questões do mundo e a defender suas ideias com diplomacia
Oestudo “The Class of 2030”, comandado pela consultoria McKinsey & Company em colaboração com uma empresa gigante de tecnologia, afirma que o desenvolvimento das habilidades socioemocionais é essencial para a formação das crianças. Segundo a pesquisa, os estudantes aprendem mais quando o projeto pedagógico conta com ações que os ensinam a se manifestarem e a se relacionarem com o outro. Além dessas habilidades, atividades relacionadas à criatividade, à sociabilidade e à tecnologia contribuem para que os alunos não só tenham um desempenho melhor nas universidades e na carreira como possam ser pessoas mais completas e realizadas.
No Colégio Visconde de Porto Seguro, a formação socioemocional perpassa todo o currículo. Em projetos como o PORTO ONU, cuja edição anual foi realizada em setembro, os alunos aprendem a respeitar regras de debate, a dominar a oralidade e a lidar com suas próprias emoções. Segundo Silmara Rascalha Casadei, diretora-geral do colégio, os estudantes, além de se aprofundarem em questões essenciais para o futuro da humanidade, tiveram a oportunidade de desenvolver outras competências, como escutar o outro com respeito e exercitar diferentes pontos de vista, além de ampliarem sua cultura geral.
Henrique Vaqueiro, 16 anos, que participou do evento, conta que o aprendizado foi além do conteúdo acadêmico: “Mais que aprender sobre a posição dos Estados Unidos em relação ao Iraque, precisei vencer meu medo de falar em público, pois sou tímido. Também aprendi a negociar e a formar alianças com os co- legas que representavam outras nações”.
Na área de esportes, o desenvolvimento motor e as habilidades físicas também são pautados por questões como a sociabilidade. Dessa forma, os alunos são convidados a competir com respeito. No curso de gastronomia, eles dividem responsabilidades e tarefas enquanto descobrem características das culturas de diversos países. A formação educacional, aliando conhecimento de ponta no currículo básico com habilidades socioemocionais, traz como resultado um ser humano autônomo, mais feliz e pronto para transformar a sociedade. Baseado nessa premissa, o colégio criou o Programa de Mentoria, que atende a todos os alunos.
Para Caio Lo Bianco, especialista e professor de Educação Socioemocional do Laboratório de Inteligência e Vida, faz toda a diferença para o aluno estudar em uma escola que ensina a lidar com as próprias questões e com as do outro. “As habilidades socioemocionais podem ser ensinadas e aprendidas, e os impactos são muito positivos, tanto na convivência com família e amigos quanto no adulto que essa criança ou jovem se tornará”, ele conta.
Com 140 anos, o Colégio Visconde de Porto Seguro aposta na formação integrada dos seus 9 mil alunos, que se dividem entre os campus Morumbi, Panamby e Valinhos. O currículo interdisciplinar abrange expressão e comunicação em diferentes línguas, raciocínio lógico para resolução de problemas, letramento digital, compreensão dos fenômenos naturais e da diversidade sociocultural, capacitação para o pensamento autônomo e proposição de novas ideias para o mundo.
de que fosse interpretado como propaganda política, adiou o projeto. A sugestão de Antônio e Gabriel, no entanto, foi o empurrão necessário. E sucesso de crítica e público, com famílias e estudantes elogiando. Antônio diz que ele e seus colegas não sabiam como seriam as aulas. Mas diz que a turma se entusiasmou e encheu os professores com dúvidas.
Viviane considera que o projeto faz com que os alunos se sintam ouvidos e destaca que as quatro classes foram um espaço para discutir política entre eles, sem a interferência das famílias, que “aceitaram muito bem porque nós temos uma parceria grande.” “Elas entendem que a gente não faz um processo de doutrinar ninguém. Como confiam muito nesse posicionamento nosso, que educa para paz, para o bem, entendem que é muito imparcial. A gente não tem esse desejo, e sim de capacitar nossos meninos”, conta.
Antônio, por exemplo, afirma que só escolheu seus candidatos depois das aulas e antes fazia um voto mais emocional, a partir do que a família dizia. O mesmo ocorreu com Giulia Klein Scurato, estudante do 9.º ano do ensino fundamental do Colégio Rio Branco, de 15 anos. Em setembro e outubro, a escola realizou o Construindo Opiniões, incentivando atividades relacionadas à política. Para ela, a principal conquista é ter ferramentas para formar o próprio pensamento. “Antes do projeto, eu tinha uma certa noção, mas pelo que meu pai fala. O projeto ajuda a criar opiniões e a não ficar repetindo o que a gente ouve, o que é muito comum na nossa idade. Você não tem oportunidade de criar opinião. A leitura e as atividades ajudaram muito nesse quesito”, conta.
Debate. O Construindo Opiniões começou a ser planejado neste ano a partir de um questionário aplicado aos alunos do 9.º ano do fundamental ao 3.º ano do médio. Com as respostas, a coordenação pensou em cinco temas para que cada grupo de estudantes fizesse uma roda de discussão. Os assuntos preferidos foram representatividade de minorias no Legislativo e o fenômeno das fake news. Os principais pontos levantados pela turma eram apresentados em auditório aos outros estudantes.
“A análise de tudo começou a partir dos alunos”, diz a coordenadora de História do Colégio Rio Branco, Lívia Botin. Assim como em outros colégios, o protagonismo do adolescente estava na essência do projeto. Por trás, havia a participação de outros professores, que receberam materiais para também se preparar para o assunto e mediar as discussões.
No horizonte, ela vê o debate sobre política ocorrendo todo ano na escola, e não a cada quatro anos. E, já que teve sucesso, ela quer manter o formato do programa em outros temas polêmicos nas Ciências da Natureza, por exemplo, como organismos geneticamente modificados. “Acho que a gente foi bem ousado. Não sei se outras escolas topariam discutir esse tema agora. É algo que muita gente daria um passo para trás”, comenta.