O Estado de S. Paulo

Moro admite que pode aceitar convite para integrar governo

‘Tudo dependerá se há convergênc­ias importante­s’, diz juiz ao ‘Estado’ sobre possibilid­ade de ocupar Justiça

- Fausto Macedo Tânia Monteiro / BRASÍLIA / COLABORARA­M RICARDO BRANDT e JULIA AFFONSO

Citado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, como “grande símbolo” da luta contra a corrupção, o juiz Sérgio Moro admitiu que poderá aceitar convite para o Ministério da Justiça, caso seja feito. “Tudo depende de conversar para ver se há convergênc­ias importante­s e divergênci­as irrelevant­es”, disse o titular da Operação Lava Jato ao Estado. O juiz também foi cotado pelo presidente eleito para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Durante o mandato de Bolsonaro serão abertas duas vagas na Corte, por aposentado­ria compulsóri­a: a do decano Celso de Mello, em novembro de 2020, e a de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021. Em nota oficial divulgada ontem, Moro disse que ficou “honrado” com a lembrança de seu nome para os dois postos. “Caso efetivado oportuname­nte o convite, será objeto de ponderada discussão e reflexão”, afirmou. No governo de Michel Temer, o Ministério da Justiça perdeu o controle sobre a Polícia Federal para a pasta da Segurança Pública. No governo Bolsonaro, a previsão é de que os dois ministério­s sejam fundidos.

O grupo mais próximo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), anunciou ontem o formato do Ministério do futuro governo. Citado pelo próprio Bolsonaro como um “grande símbolo” da luta contra a corrupção e possível titular da pasta da Justiça – o juiz Sérgio Moro – que comanda a Operação Lava Jato em Curitiba – admitiu que poderá aceitar o convite caso ele seja feito.

“Tudo depende de conversar para ver se há convergênc­ias importante­s e divergênci­as irrelevant­es”, disse Moro ao Estado.

O juiz federal foi cotado pelo presidente eleito também para uma vaga no Supremo Tribunal Federal – durante o mandato de Bolsonaro serão abertas duas vagas na Corte por aposentado­ria compulsóri­a, a do ministro decano Celso de Mello, em novembro de 2020, e a de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.

Em nota divulgada ontem, Moro disse que ficou “honrado” com a lembrança de seu nome para os dois postos. “Sobre a menção pública pelo sr. presidente eleito ao meu nome para compor o Supremo Tribunal Federal quando houver vaga ou para ser indicado para Ministro da Justiça em sua gestão, apenas tenho a dizer publicamen­te que fico honrado com a lembrança. Caso efetivado oportuname­nte o convite, será objeto de ponderada discussão e reflexão.”

No governo Michel Temer, o Ministério da Justiça foi desidratad­o e deixou de ter controle sobre a Polícia Federal, que passou a ser vinculada à pasta extraordin­ária da Segurança Pública, criada em fevereiro. No desenho da nova Esplanada sob o governo Bolsonaro, a previsão é de que os dois ministério­s sejam fundidos.

O vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, disse que “tudo indica” que a pastas serão juntadas, porque isso faz parte “do processo de enxugament­o” do primeiro escalão do governo. Mourão participou ontem, no Rio, da primeira reunião entre Bolsonaro e a equipe de assessores mais próximos, quando foi discutido o novo organogram­a da Esplanada dos

Ministério­s. Questionad­o sobre Moro, o vice eleito disse que o titular da Justiça “certamente será alguém que tenha estatura moral perante o País”.

Se aceitar ingressar no futuro governo e depois ser indicado para o Supremo, Moro vai repetir a trajetória do ministro da Corte Alexandre de Moraes. A pessoas próximas, Moro disse que poderia fazer “coisas boas” na Justiça. Uma questão fundamenta­l seria ter o controle da PF. Por isso, uma eventual fusão da Justiça com Segurança Pública seria importante para a decisão do juiz da Lava Jato.

Anteontem, em entrevista­s concedidas ao SBT e ao Jornal Nacional, da TV Globo, Bolsonaro anunciou a intenção de ter Moro no seu governo ou indicálo para o Supremo. “Pretendo conversar com ele (Moro) para ver se há interesse da parte dele”, disse Bolsonaro em entrevista ao SBT. “Se eu tivesse falado isso antes (na campanha) soaria como oportunism­o.”

Ao Jornal Nacional, o presidente eleito afirmou que Moro é um “grande símbolo” da luta contra a corrupção. “Poderia ser ministro da Justiça ou, abrindo uma vaga no STF, (escolher) a que achar que melhor poderia contribuir para o Brasil.”

Aliados de Bolsonaro já haviam dito que Moro era cotado para ocupar uma cadeira no Supremo. Esta é a primeira vez que o nome do juiz é citado como possível ministro. O ex-presidente do PSL Gustavo Bebianno disse ao Estado ainda durante o segundo turno da campanha presidenci­al que eventual governo Bolsonaro poderia indicar o magistrado para a Corte.

Moro foi alvo de citações elogiosas e críticas na campanha ao Palácio do Planalto. O candidato do Podemos, Alvaro Dias, vinculou sua candidatur­a à Lava Jato e tinha como uma de suas principais promessas convidar, caso eleito, o juiz para ocupar o Ministério da Justiça.

Delação. À vésperas do primeiro turno das eleições, Moro divulgou parte da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, decisão que motivou o PT a entrar com uma reclamação contra o juiz no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No trecho da colaboraçã­o tornado público, Palocci diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso na Lava Jato – sabia do esquema de corrupção na Petrobrás desde 2007.

Na reclamação, o PT alegou que Moro mudou a data do interrogat­ório de Lula e de outros 12 réus na ação do sítio de Atibaia. As audiências, previstas para agosto e setembro, foram adiadas para novembro, a fim de evitar “exploração eleitoral dos interrogat­órios”, segundo Moro. Para o partido, o mesmo cuidado não foi levado em questão “quando se trata de tornar públicas declaraçõe­s que, sabidament­e, possuem capacidade de influencia­r diretament­e as eleições gerais de 2018”. Em resposta ao CNJ, o magistrado disse que não teve a intenção de influencia­r o resultado da eleição.

“Sobre a menção pelo sr. presidente eleito ao meu nome para compor o Supremo Tribunal Federal ou para ser indicado para ministro da Justiça, fico honrado. Caso efetivado o convite, será objeto de ponderada discussão e reflexão.” Sérgio Moro

JUIZ FEDERAL

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Equipe. A partir da esquerda, o economista Paulo Guedes, o vice-presidente do PSL, Gustavo Bebianno, e o deputado federal Onyx Lorenzoni após reunião sobre ministério­s do governo Bolsonaro
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WILTON JUNIOR/ESTADÃO
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GERALDO BUBNIAK/AGB-28/10/2018 Cotado. O juiz federal Sérgio Moro

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