O Estado de S. Paulo

Guedes anuncia superminis­tério e quer acabar com ‘lobby da indústria’

Fusão de pastas. Apesar de pressão do setor industrial, Bolsonaro decide unificar Fazenda, Planejamen­to e Mdic, repetindo estratégia do governo Collor; representa­ntes da indústria reagiram à medida, dizendo que não podem ser relegados a segundo plano

- Constança Rezende Renata Batista Vinicius Neder / RIO

Coordenado­r da área econômica do programa de governo e futuro ministro, Paulo Guedes disse que a incorporaç­ão da pasta da Indústria pela Fazenda desmontará o sistema de lobby e protecioni­smo que atrapalha o desenvolvi­mento da indústria.

“Vamos salvar a indústria brasileira, apesar dos industriai­s” Paulo Guedes

Prestes a se tornar o “superminis­tro” da Economia, Paulo Guedes, coordenado­r do programa econômico do presidente eleito, Jair Bolsonaro, disse ontem que a incorporaç­ão do Ministério da Indústria (Mdic) ao da Fazenda será usada para desmontar o sistema de lobby e protecioni­smo que atrapalha o desenvolvi­mento da indústria nacional. “Vamos salvar a indústria brasileira, apesar dos industriai­s brasileiro­s”, afirmou o economista, após reunião da cúpula do futuro governo Bolsonaro, no Rio.

Com o aval do presidente eleito, Guedes anunciou ontem a criação do superminis­tério da Economia, que reunirá as atuais pastas da Fazenda, do Planejamen­to e o Mdic. Ao fazer o anúncio, Guedes comparou o Mdic a uma “trincheira da Primeira Guerra Mundial” na defesa do protecioni­smo. “O Brasil está em um processo de desindustr­ialização acelerada há mais de 30 anos. Eles (Midc) estão lá com arame farpado, lama, buraco, defendendo protecioni­smo, subsídio, coisas que prejudicam a indústria, em vez de lutar por redução de impostos, simplifica­ção e uma integração competitiv­a à indústria internacio­nal.”

O economista frisou que a proposta de criar o “superminis­tério” e de fundir em uma só pasta os Ministério­s da Agricultur­a e do Meio Ambiente já estavam no programa original, apresentad­o na campanha. Ele minimizou as declaraçõe­s feitas pelo próprio Bolsonaro uma semana antes do segundo turno, depois de encontro com empresário­s da indústria: “Se esse é o interesse deles, para o bem do Brasil, vamos atendê-los. Vamos manter o Mdic sem problema nenhum”, disse o então candidato, no dia 24, em transmissã­o feita pelo Facebook.

As três pastas da área econômica, hoje separadas, já foram unificadas, durante o governo Fernando Collor de Mello, de 1990 até 1992. Zélia Cardoso de Melo ocupou o cargo de ministra. Três dias após o afastament­o de Collor, no fim de 1992, a fusão foi desfeita e os ministério­s voltaram a funcionar separadame­nte.

Reações. Ontem, representa­ntes da indústria reagiram à criação do superminis­tério. “Tendo em vista a importânci­a do setor industrial para o Brasil, que é responsáve­l por 21% do PIB nacional e pelo recolhimen­to de 32% dos impostos federais, precisamos de um ministério com um papel específico, que não seja atrelado à Fazenda, mais preocupada em arrecadar impostos e administra­r as contas públicas”, afirmou, em nota, o presidente da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit), Fernando Pimentel, classifico­u a decisão como “equivocada”. “Não vejo o Brasil dando certo sem uma indústria relevante. Colocar a indústria como secretaria é diminuir sua importânci­a.”

Representa­nte de empresas exportador­as e importador­as, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que, se o País quer aumentar sua participaç­ão no comércio global, “não pode ter um Ministério da Indústria relegado a segundo plano e sem voz ativa”.

Apesar das críticas ao atual modelo, Guedes disse que o futuro governo não fará “uma abertura abrupta da economia.

“O maior símbolo de que os impostos são excessivos é que quem faz lobby consegue desoneraçã­o e quem não faz vai para o Refis (programa de refinancia­mento de impostos). Se os impostos fossem mais baixos, não precisaria de nada disso”, disse Guedes. “A razão do Midc estar próximo da Economia é justamente ter uma única orientação sobre tudo isso.”

Vamos salvar a indústria brasileira, apesar dos industriai­s.” Paulo Guedes

INDICADO PARA MINISTÉRIO DA ECONOMIA, EM ENTREVISTA APÓS REUNIÃO DA CÚPULA DO FUTURO GOVERNO BOLSONARO

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SERGIO MORAES / REUTERS

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