O Estado de S. Paulo

Vera Magalhães

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Moro demonstra que pode esperar, no ministério, a aposentado­ria de Celso de Mello.

Quando precisou negar que seria candidato a presidente, diante de inúmeras especulaçõ­es a respeito, Sérgio Moro foi direto. Disse, em diversas ocasiões, que a política não era um caminho vislumbrad­o por ele, e que continuari­a fazendo seu trabalho de juiz.

Ao agradecer a menção pública a seu nome feita por Jair Bolsonaro, sem que haja sequer um convite oficial para o Ministério da Justiça ou para o Supremo Tribunal Federal, Moro muda radicalmen­te essa diretriz. Quando admite que analisará qualquer um dos convites, o coordenado­r da Lava Jato, numa tacada só: 1) encoraja Bolsonaro a fazê-lo oficialmen­te; 2) deixa antever que pode aceitar o ministério e, dali, esperar placidamen­te pela aposentado­ria de Celso de Mello do STF, em 2020.

Os convites incluídos no mesmo pacotão por Bolsonaro e Moro são de natureza diversa. O Ministério da Justiça é um posto político, não jurídico. Aceitá-lo fará com que Moro deixe não só a Lava Jato, mas sua carreira de juiz. Mais: contribuir­á para a narrativa (falsa) do PT de que o juiz agiu com intenção política ao ajudar a desnudar o petrolão e condenar Lula e outros próceres petistas.

Ele precisa disso? Certamente não. Precisa pagar este “pedágio” para ser ministro do Supremo? Tampouco.

Já a designação para a Corte é a ambição natural e justa de alguém com a carreira de Moro. Ele já teve uma passagem pelo Supremo, como juiz auxiliar de Rosa Weber, e certamente reúne os atributos de notório saber jurídico e reputação ilibada para substituir o decano.

A interlocut­ores, Moro tem descartado o argumento de que seu eventual aceite a um ou outro convite de Bolsonaro enfraquece a Lava Jato ou joga água no moinho da queixa petista.

Integrante­s da força-tarefa da operação dizem que outro juiz assumirá as funções de Moro caso ele, de fato, deixe a 13.ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, sem prejuízo para os trabalhos.

Resta, por fim, um argumento bem esgrimido por Marcelo de Moraes no BR18: cabem dois “mitos” num governo logo em seu nascedouro? Moro não é grande demais para ser um “soldado” de Bolsonaro? O fato é que o juiz não parece ter levado nada disso em consideraç­ão ao se assanhar diante de um convite nem sequer formulado. Para um enxadrista como ele, foi um lance bastante precipitad­o.

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GERALDO BUBNIAK/AGB–28/10/2018 Pé fora. Moro demonstra intenção de deixar a Operação Lava Jato
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