Mulher ‘fantasia’ filho de escravo e causa revolta
Fantasia usada em festa de Dia das Bruxas de colégio particular em Natal repercutiu nas redes; Ministério Público abriu procedimento
O Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte e a Promotoria de Justiça de Defesa da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Estado abriram procedimentos para investigar o caso de uma criança que foi “fantasiada” de escrava pela mãe para uma festa de Dia das Bruxas de uma escola particular de Natal.
As imagens foram publicadas anteontem pela mãe da criança, a jornalista Sabrina Flor. Nas fotos, o menino aparece usando maquiagem para simular cicatrizes e ferimentos no corpo. Vestida apenas com túnicas brancas e uma faixa na cabeça, a criança também usa imitações de correntes e grilhões, instrumentos aplicados em tortura e aprisionamento de escravos.
“Quando seu filho absorve o personagem! Vamos abrasileirar esse negócio! #Escravo”, publicou a mãe no Instagram. A publicação revoltou internautas, que em seus comentários apontaram racismo e preconceito. O cantor Marcelo D2 republicou as imagens e entrou na discussão. “Quando você pensa que já viu de tudo na vida”, escreveu o cantor.
Depois da repercussão da publicação do cantor, a mãe voltou a se manifestar. “Não leiam livros de história do Brasil. Eles dizem que existiu escravidão de negros no País, mas isso é mentira. Não discuta com essa afirmação, pois você estará sendo racista, a pior pessoa, um lixo. Só não entendi ainda se o problema foi a fantasia ou o 17 na foto.”
Depois, ela pediu desculpas e apagou as publicações. “Jamais foi minha intenção ofender alguém, estou extremamente arrependida por tudo o que aconteceu e me sentindo muito mal com xingamentos e ameaças horríveis que estão me mandando”, escreveu.
O colégio onde a criança estuda lamentou a escolha da fantasia. “O Colégio CEI não incentiva nem compactua com qualquer tipo de expressão de racismo ou preconceito.” Investigação. Segundo o MPF, o órgão recebeu diversas denúncias contra a publicação de Sabrina. “As informações serão avaliadas para que se decida pela instauração, ou não, de um inquérito”, informou, em nota.
Coordenador do Núcleo de Combate à Corrupção e outro Ilícitos do MPF no Estado, o procurador Fernando Rocha criticou a publicação. “Sim, a escravidão existiu, não acabou e a sociedade brasileira não pode conviver com a banalização do mal como expressão dominante de uma ideia”, disse.
Sabrina foi procurada pelo Estado, mas não respondeu às tentativas de contato.