Mercado de capitais mais ativo
Há espaço para a expansão desse mercado, o que requer maior confiança dos investidores.
Num cenário político e econômico menos tenso e mais previsível, embora ainda sujeito a riscos e incertezas internas e externas, como é o atual, o mercado de capitais dá indicações de estar preparado para mobilizar e oferecer recursos necessários para a dinamização da atividade produtiva. Sua reação muito positiva às mudanças observadas na economia brasileira e no cenário internacional assegurou que, nos 12 meses encerrados em junho último, o fluxo líquido de recursos nele captados alcançasse R$ 206 bilhões, o maior valor desde 2005. Esta é uma das conclusões positivas da Nota Cemec 07/2018, divulgada há pouco pelo Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec), instituição vinculada à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe-USP).
De acordo com a Nota, o mercado de capitais adaptou-se ao processo de redução da taxa básica de juros iniciado em novembro de 2016. Nesse período, a taxa Selic definida pelo Banco Central baixou de 14,25% ao ano para 6,50%, mantida desde abril último. O mercado também soube responder à acentuada redução da oferta de financiamentos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como consequência da reestruturação da instituição promovida pelo governo Temer. Desse modo, contribuiu para reduzir o impacto negativo que esses fatores poderiam ter sobre a oferta de recursos financeiros para o crescimento das empresas.
A participação do mercado de capitais no provimento desses recursos teve, de fato, uma mudança notável nos últimos anos. Entre 2016 e o ano terminado em junho de 2018, o volume de recursos captados pelas empresas no mercado aumentou R$ 105 bilhões, mais do que suficiente para compensar a redução de R$ 23 bilhões dos desembolsos do BNDES.
O estudo do Cemec destaca também “o notável aumento” do número de empresas que têm participado do mercado de dívida corporativa. De 2009, quando a Comissão de Valores Mobiliários criou regras para facilitar essas operações, até o fim do ano passado, o número de novas empresas que emitiram debêntures ou notas promissórias cresceu mais de 7 vezes, o que resultou num aumento médio de 27% ao ano. No ano passado, elas somaram 1.241. “É possível que esse movimento esteja produzindo um aumento de concorrência no mercado dessas empresas, fazendo com que pela primeira vez no primeiro semestre de 2018 a taxa preferencial brasileira ficasse menor que a taxa média das debêntures”, diz a Nota.
Embora medidas de incentivo tenham sido adotadas nos últimos anos para estimular a abertura de capitais das empresas, ainda é pequeno o número das que recorrem ao mercado em busca de recursos necessários para manter ou expandir suas atividades. Também é pequena a base de investidores pessoas físicas que participam desse mercado. Assim, uma pequena proporção de grandes empresas capta recursos no mercado de capitais, em operações de grande volume coordenadas por grandes instituições financeiras e voltadas para grandes investidores. Há grande espaço para a expansão desse mercado, o que requer maior confiança dos investidores, sobretudo as pessoas físicas.
Da mesma forma, a preservação dos bons sinais aferidos pelo mais recente estudo do Cemec está condicionada à confiança no desempenho da economia brasileira e mundial no futuro próximo. Indicadores mais recentes, como os captados pelo boletim semanal Focus do Banco Central – resultado da consulta a economistas do mercado financeiro –, mostram que o cenário vem se desanuviando, com o fim das tensões eleitorais e a perspectiva de mudanças positivas.
A execução, pelo próximo governo, de um severo programa de ajuste fiscal e de reformas estruturais indispensáveis para estimular o crescimento decerto fortalecerá as expectativas positivas. Mas o atraso nas mudanças pode alterar o ânimo dos investidores. Além disso, fatores externos, como a aceleração da inflação americana, que poderá levar a aumentos mais acentuados dos juros, ainda turvam o cenário.