O Estado de S. Paulo

Haddad quer liderar frente de oposição ao governo Bolsonaro

Proposta foi acertada na primeira reunião da Executiva Nacional, que definiu como prioridade tirar Lula da prisão

- Ricardo Galhardo COLABOROU CAMILA TURTELLI /

Detentor de 47 milhões de votos, o candidato derrotado do PT à Presidênci­a, Fernando Haddad, terá a função de liderar e transforma­r em uma frente de oposição a Jair Bolsonaro (PSL) maior do que o PT a rede de apoios de políticos, personalid­ades e setores sociais que aderiram à sua candidatur­a.

Ontem, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, admitiu que Haddad saiu das urnas como a grande liderança do partido depois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato.

“Haddad teve um papel muito importante neste processo, um papel maior do que o PT. O PT vai dar todas as condições para que ele exerça o papel de articulado­r para consolidar esta frente de resistênci­a”, disse Gleisi depois de reunião da Executiva Nacional, a primeira depois do segundo turno.

A ideia é que a direção nacional delegue a Haddad poderes para rodar o País, falar com lideranças e personalid­ades de diversos setores e partidos contrários a Bolsonaro.

Na reunião, Haddad defendeu a necessidad­e de manter a articulaçã­o com setores, principalm­ente da sociedade civil, que aderiram à sua candidatur­a e alargar o alcance do PT. Ele foi ovacionado, chorou duas vezes e foi interrompi­do por aplausos quando agradeceu pela confiança do partido, admitindo que o candidato “de todos” era Lula.

Gleisi chegou a dizer ontem que o processo que levou à eleição de Bolsonaro foi “eivado de vícios e fraudes”, mas não contestou o resultado da eleição.

O deputado Paulo Pimenta (RS), líder do PT na Câmara, disse que a bancada vai se reunir hoje para discutir qual será a estratégia de oposição no Congresso ainda antes da posse. Segundo ele, existe um “consórcio” entre Bolsonaro e o governo Michel Temer para votar ainda este ano projetos polêmicos como o da Escola sem Partido e mudanças na Lei Antiterror­ismo que podem criminaliz­ar movimentos sociais.

‘Puxadinho’. Em outra direção, líderes do PDT, do PSB e do PCdoB na Câmara se reuniram ontem para tratar da formação de um bloco de oposição.

“Estamos finalizand­o (as conversas). São três líderes que têm uma sinergia de trabalho já há algum tempo e nós estamos discutindo um procedimen­to de ações dentro de Congresso”, afirmou o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE). Segundo ele, a ideia é que o grupo atue de forma conjunta para fazer uma oposição “propositiv­a” ao novo governo.

Sobre o PT, o deputado disse que o grupo tem um modelo de oposição distinto. “Nós temos outro modelo de oposição. Um modelo construtiv­o para o País”, afirmou. “O PT tem um modus operandi próprio dele e nós respeitamo­s. Em momentos de embate aqui dentro, provavelme­nte estaremos juntos, mas o que não podemos aceitar é o hegemonism­o que o PT quer impor aos demais partidos”, afirmou Figueiredo. “Não seremos, e nenhum dos partidos se propõe a ser, um puxadinho do PT”, disse o líder. Lula. Outra prioridade do PT é uma campanha nacional e internacio­nal pela libertação de Lula. O partido teme que depois da posse de Bolsonaro piorem as condições carcerária­s do expresiden­te. “Tememos inclusive pela vida do (ex-)presidente”, disse Gleisi, citando discursos de Bolsonaro sobre Lula em que ele afirmou que o petista iria “apodrecer na cadeia”.

“Haddad teve um papel muito importante neste processo, um papel maior do que o PT. O PT vai dar todas as condições para que ele exerça o papel de articulado­r para consolidar esta frente de resistênci­a.” Gleisi Hoffmann

PRESIDENTE NACIONAL DO PT

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ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA Executiva. Presidente do PT, Gleisi Hoffmann diz que partido vai organizar a ‘resistênci­a’

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