O Estado de S. Paulo

Iniciativa­s da sociedade civil impulsiona­m avanços na luta contra o câncer no Brasil

União entre sociedade, organizaçõ­es não governamen­tais, mercado privado e sistema público de saúde melhora a realidade de quem convive com a doença, contribuin­do para aprimorame­nto de políticas públicas

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Receber o diagnóstic­o de um tumor é uma das situações mais difíceis que uma pessoa pode enfrentar na vida. Essa notícia, muitas vezes, passa por uma longa jornada no sistema de saúde – desde o atendiment­o inicial até a busca por um tratamento. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima para o Brasil, biênio 2018-2019, a ocorrência de 600 mil casos novos de câncer,anuais. Para um sistema público de saúde como o nosso, que se propõe a atender um País de dimensões continenta­is, com 208,5 milhões de habitantes espalhados por regiões extremamen­te diferentes, o enfrentame­nto da doença também é um desafio de iguais proporções. Diante disso, a união entre diversos atores da sociedade tem um papel importante na busca por uma estrutura mais eficiente. Um exemplo é a atuação de organizaçõ­es não governamen­tais (ONGs), que apresentam conquistas expressiva­s pelos direitos dos pacientes à saúde. “Essas instituiçõ­es estão fazendo um trabalho de formiguinh­a incrível. Aprendemos com elas que os médicos também podem se mobilizar e que existem muitos caminhos para isso”, diz Gilberto Amorim, oncologist­a do Rio de Janeiro, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, do Conselho Científico da Federação Brasileira de Instituiçõ­es Filantrópi­cas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) e do Instituto Oncoguia, e consultivo da Fundação Laço Rosa, uma das instituiçõ­es que lutam para mudar a realidade do câncer de mama no Brasil.

Há anos a Femama, uma associação civil sem fins econômicos que reúne 74 ONGs, busca ampliar o acesso ágil ao diagnóstic­o e ao tratamento para todas as brasileira­s. Seu papel é debater avanços necessário­s nas políticas públicas, levar educação em saúde à sociedade e tornar conhecida a realidade das mulheres com câncer e suas batalhas.

“Nesta edição do Outubro Rosa criamos o #MAMAtch!, uma rede social que conecta doentes, familiares, ONGs, profission­ais de saúde e pessoas interessad­as na causa para compartilh­ar informaçõe­s, trocar experiênci­as e oferecer amparo a quem está passando por este problema”, conta a mastologis­ta Maira Caleffi, fundadora e presidente da Femama. A entidade se destaca também na luta em prol da lei dos 60 dias, sancionada em 2012. “Ela determina que o paciente oncológico receba o tratamento até 60 dias após o diagnóstic­o”, explica Caleffi. Segundo a especialis­ta, a proposta é válida, mas ainda são necessário­s ajustes para que ela funcione da maneira como deveria.

Com foco em melhorar a organizaçã­o e a agilidade das filas de atendiment­o para consultas, exames e tratamento­s, uma iniciativa que merece destaque é o projeto de lei conhecido como Waze da Saúde. Ele foi elaborado pelo Instituto Oncoguia, uma ONG que se dedica a fazer as pessoas com câncer viverem melhor, além de educar e defender os seus direitos, monitorand­o as políticas públicas,para garantir que elas sejam mais eficazes. “Nosso objetivo, com o projeto, é acabar com a apreensão dos pacientes, que não recebiam informaçõe­s sobre os prazos desses atendiment­os, e deixar a organizaçã­o das filas mais transparen­te”, conta a psico-oncologist­a Luciana Holtz de C. Barros, fundadora do Instituto.

A lógica do aplicativo de celular foi utilizada para estabelece­r que, assim que o indivíduo receber a indicação de uma consulta, exame ou procedimen­to, ele saia da unidade de saúde com um protocolo informando local, data e horário para a realização. Além disso, os gestores de saúde devem divulgar as filas de espera, sem identifica­r quem faz parte delas. Desse modo, permite-se o acompanham­ento por parte da sociedade, evitando que haja uma quebra injustific­ada na ordem das filas.

Entre os objetivos do Waze da Saúde está deixar a organizaçã­o das filas mais transparen­te, evitando fraudes” Luciana Holtz Fundadora do Instituto Oncoguia

Inspirada em apps de relacionam­ento, o MAMAtch! vai conectar pacientes, familiares e ONGs” Maira Caleffi Presidente da Femama

Nossos projetos buscam resolver questões importante­s para os indivíduos e os propósitos coletivos” Merula Steagall Presidente da Abrale

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Foto: Instituto Oncoguia Ação Outubro Além do Rosa, movimento criado pelo Oncoguia para chamar atenção também para outros tipos de câncer

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