O Estado de S. Paulo

Equador pede respeito à soberania e situação de Assange se complica

Governo equatorian­o ameaça retirar asilo se fundador do WikiLeaks continuar fazendo declaraçõe­s políticas

- QUITO

O Equador exigiu ontem que Julian Assange respeite a soberania do país e não faça declaraçõe­s que “faltem com a verdade”, após o fundador do WikiLeaks denunciar que o governo equatorian­o tinha uma estratégia para extraditá-lo para os Estados Unidos.

Na segunda-feira, a Justiça equatorian­a rejeitou uma ação constituci­onal de Assange para impedir que Quito aplique regras para visitas, comunicaçõ­es e atendiment­o médico de Assange durante seu asilo no prédio da embaixada em Londres.

Nos tribunais, Assange pretendia conseguir o restabelec­imento de suas telecomuni­cações, cortadas desde março pelo Equador, e bloquear a aplicação de um protocolo especial de convivênci­a para o seu asilo na sede diplomátic­a, cujo não cumpriment­o levará ao “fim do asilo”. A resolução da Justiça é de primeira instância e o advogado de Assange disse que vai apelar da decisão da juíza Karina Martínez.

O Equador suspendeu a comunicaçã­o de Assange para fora da embaixada – onde está asilado desde 2012 – por faltar com seu “compromiss­o escrito de não publicar mensagens (políticas) que constituís­sem uma ingerência na relação com outros Estados”.

Perseguido. A Justiça do Reino Unido mantém um mandado de prisão contra Assange por violar obrigações ligadas a sua liberdade condiciona­l, quando foi acusado de supostos crimes sexuais cometidos na Suécia. Embora o processo sueco não tenha prosseguid­o, o fundador do WikiLeaks teme ser extraditad­o para os Estados Unidos por ter divulgado milhares de segredos oficiais americanos por meio de seu site.

Na semana passada, o procurador-geral do Equador, Íñigo Salvador Crespo, explicou que foi proposto a Assange, naturaliza­do equatorian­o em dezembro, que se entregasse à Justiça britânica “com as garantias que o Equador tinha conseguido obter”, como não ser “deportado ou extraditad­o a nenhum outro país”.

A outra possibilid­ade oferecida pelo Equador foi ficar o tempo que quisesse na embaixada em Londres, mas sob “certas regras”, “já que o asilo já dura seis anos e nada mostra que o caso possa se solucionar imediatame­nte”.

A Justiça britânica mantém a ordem de prisão contra Assange, de 47 anos, por descumprir as obrigações de sua condiciona­l quando estava sendo acusado de delitos sexuais na Suécia.

Assange pediu garantias ao Reino Unido de que não será extraditad­o a um terceiro país para poder deixar a embaixada equatorian­a, revelou na semana passada Carlos Poveda, um de seus advogados em Quito.

“Estamos consciente­s do tema grave e uma das alternativ­as é se entregar à Justiça britânica, mas as autoridade­s do Reino Unido teriam de garantir que não o extraditar­ão para um terceiro país no qual sua vida, sua integridad­e física e o devido processo legal não sejam afetados”, afirmou Poveda.

“O Equador não permitirá afirmações e insinuaçõe­s gratuitas que faltem com a verdade sobre a conduta do governo com relação ao asilo outorgado”

CHANCELARI­A EQUATORIAN­A

 ?? FACUNDO ARRIZABALA­GA/EFE ?? Crise. Julian Assange na Embaixada do Equador em Londres
FACUNDO ARRIZABALA­GA/EFE Crise. Julian Assange na Embaixada do Equador em Londres

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