O Estado de S. Paulo

Previdênci­a depende de cálculo político, diz Guedes

Para futuro ministro da Economia, do ponto de vista econômico, reforma está atrasada, mas é preciso evitar ‘confusão no Congresso’

- RIO E BRASÍLIA

O futuro ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PSL), Paulo Guedes, defendeu ontem a aprovação da proposta de reforma da Previdênci­a enviada pelo presidente Michel Temer. No entanto, após a reunião com a cúpula do futuro governo, ele ponderou que é preciso levar em conta um “cálculo político” ao analisar a questão.

Líderes de partidos da legislatur­a atual avaliam como baixa a possibilid­ade de a Câmara aprovar qualquer mudança nas regras para se aposentar no Brasil ainda este ano. O calendário apertado, a complexida­de da proposta e o acúmulo de outros projetos também considerad­os essenciais devem impedir o avanço da reforma este ano, dizem os parlamenta­res. Por se tratar de uma mudança na Constituiç­ão, são necessário­s dois turnos de votação com os votos favoráveis de pelo menos 308 dos 513 deputados.

A proposta enviada pelo governo Michel Temer com mudanças nas regras de aposentado­ria foi aprovada por uma comissão especial da Câmara em 2017, mas travou e não chegou a ser votada no plenário por falta de apoio depois do escândalo da JBS, envolvendo Temer. Para retomar a reforma da Previdênci­a ainda este ano, seria preciso suspender a intervençã­o federal na área de segurança pública do Estado do Rio.

Entre outras coisas, a proposta que está na Câmara prevê idades mínimas iniciais de 53 anos para mulheres e 55 anos para homens, avançando ao longo de duas décadas para as exigências de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens. O governo atual acha que o Bolsonaro não pode perder a oportunida­de de buscar a aprovação ainda este ano na Câmara, pelo menos em primeiro turno, para evitar uma nova negociação ano que vem.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que seria “um pouco de precipitaç­ão” afirmar quando a proposta será votada. “Precipitad­o é votar qualquer coisa sem voto. Com voto nada é precipitad­o. Votar qualquer matéria, Previdênci­a ou não para o futuro governo sofrer uma derrota eu acho que é ruim para o governo que entra”, afirmou. “Então vamos ter de ter paciência.”

Advertênci­a. Aliado de Jair Bolsonaro, o deputado Major Olímpio (PSL-SP), eleito para o Senado, disse avaliar que, se a proposta de reforma da Previdênci­a for votada neste ano, como está, não será aprovada. “A proposta estava suprimindo direitos do pessoal do Benefício daPrestaçã­o Continuada, não estava incluindo (na aposentado­ria especial) categorias, como agentes penitenciá­rios e guardas municipais, e também não se avançou na idade mínima.”

Para o deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), que se considera um “sobreviven­te” por ter conseguido a reeleição mesmo sendo o relator da reforma, três pontos são essenciais na proposta: estabelece­r idade mínima, uma regra de transição “justa” e igualar a Previdênci­a pública à privada.

O Estadão/Broadcast apurou que a ideia do novo governo é trabalhar com duas reformas. Além da “paramétric­a” (para alterar as regras de acesso aos benefícios), a seguinte seria feita para implementa­r o regime de capitaliza­ção (contribuiç­ão para contas individuai­s) por meio de uma outra proposta de emenda à Constituiç­ão e abrangeria somente ingressant­es no mercado de trabalho.

O modelo atual é chamado de repartição e funciona com os aposentado­s recebendo do que é arrecadado por quem está trabalhand­o atualmente. A diferença nesse “caixa” comum é estimada em um rombo de R$ 218 bilhões só em 2019 e é coberta pelo Estado. No sistema de capitaliza­ção, que já foi adotado no Chile, é criada uma conta individual em que o trabalhado­r deposita sua contribuiç­ão, que banca a aposentado­ria no futuro. “Vamos criar uma nova Previdênci­a com regime de capitaliza­ção, mas existe uma Previdênci­a antiga que está aí. Então, além do novo regime trabalhist­a e previdenci­ário, temos de consertar essa que está aí”, disse Guedes.

Desentendi­mento. Pela manhã, Guedes chegou a desautoriz­ar o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que deu declaraçõe­s recentes sobre a reforma da Previdênci­a. “Estão assustados por quê? É um político falando de economia. É a mesma coisa se eu sair falando de política. Não dá certo, né?”, afirmou Guedes. À tarde, o futuro ministro da Economia moderou o tom. “Do ponto de vista econômico, quanto mais rápido (aprovar a reforma da Previdênci­a), melhor. Estamos atrasados com essa reforma. Agora, evidenteme­nte existe um cálculo político. O nosso Onyx, corretamen­te, não quer que, de repente, nossa vitória nas urnas se transforme numa confusão no Congresso”, disse Guedes, em nova entrevista, ao lado

de Lorenzoni.

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FELIPE RAU/ESTADÃO-15/10/2018

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