O Estado de S. Paulo

Guedes vai propor BC independen­te

Plano é enviar ao Congresso um projeto de lei que vai prever mandatos não coincident­es para diretores do BC e para o presidente do País

- Constança Rezende Renata Batista Vinicius Neder / RIO

O economista Paulo Guedes, principal assessor econômico do presidente eleito Jair Bolsonaro, deu sinais ontem de que não pretende ter uma postura intervenci­onista na política monetária e cambial. Segundo Guedes, a atual transição de governo será a última em que haverá incerteza sobre o comando da autoridade monetária. Ele prometeu enviar um projeto para dar independên­cia ao Banco Central (BC) com previsão de mandatos não coincident­es entre diretores do órgão e mandatos presidenci­ais.

“A essência desse projeto são mandatos não coincident­es”, disse o economista, ao chegar para a reunião da cúpula do governo Bolsonaro, ontem, no Rio.

Já indicado como ministro da Economia, Guedes elogiou o atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, que considera um bom quadro. Disse, porém, que um convite para sua permanênci­a ainda não foi feito.

“Daqui para a frente, como vamos aprovar a independên­cia do Banco Central , saberemos que essa fonte de incerteza [o comando do BC] será eliminada. Essa é a última transição que tem essa incerteza”, afirmou Guedes.

Reservas. O futuro ministro esclareceu que a proposta de vender parte das reservas internacio­nais, revelada na terça-feira pelo jornal Valor Econômico, foi discutida pela equipe que trabalhou no programa de governo ainda durante a campanha e seria adotada apenas em caso de crise especulati­va no câmbio. Essa é uma das funções clássicas das reservas internacio­nais, que funcionam como uma espécie de “seguro”: se o dólar sobe muito rápido, o BC vende dólares das reservas no mercado, para controlar as cotações.

Segundo Guedes, a equipe de assessores econômicos debateu o assunto um mês atrás, quando o dólar estava cotado na casa de R$ 4,10. Nesse quadro, faria sentido o BC intervir no mercado para evitar uma desvaloriz­ação muito forte do câmbio. “Se o dólar chegar a R$ 5,00, vai ser muito interessan­te, porque vamos vender US$ 100 bilhões. São R$ 500 bilhões. Na mesma hora, vou recomprar dívida interna. Chama-se política de esteriliza­ção”, explicou o economista.

O futuro ministro ressaltou que “não vai se fazer isso” sem uma crise especulati­va no câmbio. “O dólar agora está a R$ 3,60, para que vou vender dólar? Para derrubar as exportaçõe­s?”, questionou.

Para o economista, o custo de manter as reservas internacio­nais é elevado e não seria necessário um nível tão elevado se as contas públicas fossem equilibrad­as. “Quando você tem um regime fiscal robusto, não existe essa necessidad­e de carregar tantas reservas, porque é um seguro muito caro”, disse.

“Se o dólar chegar a R$5,00, vai ser muito interessan­te, porque vamos vender US$ 100 bilhões. São R$ 500 bilhões, vou recomprar dívida interna. Chama-se política de esteriliza­ção.” Paulo Guedes

FUTURO MINISTRO DA ECONOMIA

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