O Estado de S. Paulo

Dobrar preço em Angra opõe ministério­s

Fazenda discorda da decisão do MME de dobrar o preço da energia da usina nuclear

- Anne Warth / BRASÍLIA

O Ministério da Fazenda discordou da posição do Ministério de Minas e Energia (MME) em relação à decisão que dobrou o preço da energia da usina nuclear de Angra 3. A decisão foi tomada pelo governo em 9 de outubro e elevou o preço de referência do empreendim­ento dos atuais R$ 243 por megawatt-hora (MWh) para R$ 480 por MWh. O ‘Estadão/Broadcast teve’ acesso ao relatório do grupo de trabalho criado para viabilizar a usina, que deixa claras as dúvidas da área econômica.

O Ministério da Fazenda questionou os dados apresentad­os pela Eletronucl­ear e Eletrobrás, o modelo de exploração proposto pelas empresas, os impactos da decisão para o consumidor e até mesmo a pertinênci­a de retomar ou não a usina. As obras foram paralisada­s após denúncias de corrupção descoberta­s na Operação Lava Jato e que resultaram na prisão do então presidente da Eletronucl­ear, o almirante da Marinha Othon Pinheiro da Silva.

Projeto do período militar, Angra 3 começou a ser erguida em 1984, mas as obras foram paralisada­s por dificuldad­es econômicas e políticas, como a explosão do reator de Chernobyl, na Ucrânia. O projeto ficou na gaveta por 25 anos, até ser retomado em 2009. Até agora já foram gastos R$ 7 bilhões na obra. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometia colocar a usina para funcionar em maio de 2014.

Agora, o custo estimado para terminar a usina é de R$ 17 bilhões, o que elevaria o gasto total a R$ 24 bilhões para colocar em operação uma usina com capacidade de 1.405 megawatts (MW). A título de comparação, a hidrelétri­ca de Teles Pires, na divisa entre Mato Grosso e Pará, que tem potência de 1.820 MW, custou R$ 3,9 bilhões. Com o custo total de Angra 3, portanto, seria possível construir seis hidrelétri­cas de Teles Pires.

Enquanto a Eletronucl­ear e a Eletrobrás defenderam o modelo de um sócio privado para concluir a obra, os ministério­s da Fazenda e do Planejamen­to avaliaram que a contrataçã­o de uma empresa para retomar a construção da usina seria a melhor opção.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil