O Estado de S. Paulo

Dados que valem ouro

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Seguindo nossa jornada sobre a revolução digital, começamos pelo passo primordial que é digitaliza­r os negócios. Depois, vimos a importânci­a de colocar o software para trabalhar neste universo. Agora é hora de deixarmos tudo mais interessan­te ao mergulharm­os no oceano de dados em que estamos vivendo.

Alguns dizem que “dados são o novo petróleo” e outros que “dados são o ar que respiramos”. Acredite, eles não estão exagerando. Com décadas de Lei de Moore em ação, vimos um cresciment­o exponencia­l na capacidade computacio­nal disponível e, simultanea­mente, redução brutal nos custos e dimensões dos dispositiv­os que usamos para processar, armazenar, coletar e transmitir informaçõe­s. Por um lado nunca geramos tantas informaçõe­s quanto nos últimos anos e, por outro, nunca foi tão viável armazená-las por tempo indetermin­ado e processá-las em tempo real.

São dados sobre tudo o que fazemos ao interagir com qualquer tipo de serviço ou dispositiv­o digital. Informaçõe­s sobre o funcioname­nto de equipament­os industriai­s, sobre o que acontece nas cidades, detalhes do funcioname­nto das turbinas de um avião e, até mesmo sobre como dormimos de ontem para hoje. Estas informaçõe­s, que antes não poderiam ser capturadas, armazenada­s ou processada­s, agora são utilizadas para deixar produtos e serviços digitais cada vez mais inteligent­es.

Um banco digital pode decidir em segundos sobre um pedido de empréstimo usando os dados disponívei­s no celular do cliente. A marca e o modelo do celular, o local onde ele está sendo utilizado, o horário e a duração das últimas chamadas e os apps ali instalados. Se o banco tiver acesso a uma grande quantidade destas informaçõe­s, poderá cruzá-las com o histórico de pagamentos dos clientes e criar modelos que usem estes dados para inferir o risco de crédito para os novos clientes. Quanto mais dados, melhor o modelo.

Com isto, os players do mundo digital deixam seus produtos cada vez mais interessan­tes para seus clientes e criam diferencia­is que são muito difíceis de serem reproduzid­os pelos competidor­es tradiciona­is. E mais, normalment­e estes efeitos se reforçam de maneira positiva com o tempo e deixam a competição ainda mais dura. A lógica é simples: se você tem mais dados, pode oferecer um serviço melhor, que atrairá mais clientes e que gerarão ainda mais dados. É o que os economista­s chamam de “efeitos de rede” ou “externalid­ades”.

Não é à toa que as empresas que já entenderam esta dinâmica façam de tudo para se apossarem de mais e mais informaçõe­s. Sejam elas nativas digitais ou negócios tradiciona­is que já abraçaram o mindset. Na ausência de dados as promessas da revolução digital não passam de ideias sem implicaçõe­s mais práticas. E é hora de entender onde você está nesta nova corrida do ouro. ✽ É SÓCIO DO FUNDO REDPOINT EVENTURES

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