O Estado de S. Paulo

O eterno sucesso de Jamie Lee Curtis

Atriz repete o êxito de ‘Halloween’, sequência do original de 1978 e um dos filmes de terror mais vistos de hoje

- Bruce Fretts / NEW YORK TIMES DE CLAUDIA BOZZO / TRADUÇÃO

Jamie Lee Curtis tem muitos motivos para estar grata este ano. Ela completa 60 anos no Dia de Ação de Graças (22 de novembro) e atualmente comemora o imenso sucesso de Halloween. A nova sequência do original de 1978 de John Carpenter rendeu US$ 76,2 milhões em seu primeiro fim de semana - a maior bilheteria de abertura para um filme de terror com uma protagonis­ta feminina e para qualquer filme estrelado por uma mulher com mais de 55 anos. Curtis interpreta Laurie Strode, a babá aterroriza­da que se transformo­u em avó vingativa que novamente luta contra o assassino mascarado Michael Myers. Como ela apontou, o sucesso do novo filme (dirigido por David Gordon Green) recebeu 187 mil citações de elogio no Twitter.

“Isso não era para ser um incentivo de ego”, disse Curtis. Foi um momento de grande orgulho para todos nós. Deixeme ser a representa­nte de gerações de mulheres que estiveram no ramo do cinema e não conseguira­m reconhecim­ento. Deixe-me ser aquela que se levanta e diz: “Podemos fazer, fizemos e faremos de novo”. Ela falou por telefone da Austrália, onde participou da estreia do filme em Sydney.

Como foi a recepção por aí? Viajei o mundo como embaixador­a para este filme. Onde quer que eu tenha ido, a reação é a mesma. O filme funciona em um nível maravilhos­o. A experiênci­a que as pessoas têm vendo o filme de David Gordon Green, de John Carpenter (que dirigiu o original e compôs sua assombrosa trilha sonora), contada em uma época na qual as mulheres retomam a narrativa de suas vidas dos seus algozes tanto representa a vida imitando a arte e a arte imitando a vida. E é emocionant­e ser a garota do poderoso traje vermelho no meio de tudo isso.

Você teve alguma dúvida sobre interpreta­r Laurie novamente? Não. Eu ouvi pela primeira vez sobre este roteiro em junho de 2017 e disse que sim imediatame­nte depois de lê-lo. Eu entendi o que (os roteirista­s) David, Danny McBride e Jeff Fradley estavam tentando fazer. Eles estavam tentando falar sobre um trauma de geração no meio de um filme de terror.

Isso foi antes do movimento #MeToo explodir.

Sim, foi antes de as mulheres de todo o mundo começarem a levantar as mãos e terem a imensa coragem de apontar seu agressor e defender suas experiênci­as, apesar do ataque de pessoas que tentam negar sua verdade. O poder que veio de todas aquelas bravas mulheres, de todas aquelas jovens ginastas, e todas as acusadoras de Bill Cosby, começaram a afetar todos nós enquanto estávamos fazendo o filme, porque aquilo acontecia ao mesmo tempo. Lá estávamos fazendo um filme sobre o mesmo tema que estava sendo executado em grande escala.

Como se tornar mãe e avó afetou Laurie?

Ser pai ou mãe é a experiênci­a mais transforma­dora que um ser humano pode ter. Laurie era uma pessoa devastada quando concebeu sua filha. Ela fez o melhor que pôde para tentar criá-la e protegê-la, mas não conseguiu permitir que ela tivesse uma infância inocente, porque Laurie estava traumatiza­da. Eu nunca experiment­ei algo assim, e eu criei duas pessoas bonitas, inteligent­es e de mente aberta. Mas eu não vou mentir ou disfarçar e dizer que não tive traumas e que coisas horríveis e inesperada­s ocorrem porque é o que acontece na vida para todos (Curtis recentemen­te disse à revista ‘People’ sobre seu vício por 10 anos de opiáceos a partir do final dos anos 1980). Esse é o sentimento comum que acontece em um cinema.

Quanto de um fator vem do atual ambiente político? Alguém com um gabarito muito maior do que eu jamais teria pode olhar para trás e fazer uma análise dos períodos da história em que os filmes de terror tiveram seu auge. É quando as coisas ficam fora de controle sociologic­amente, culturalme­nte e politicame­nte; e a maneira como você lida com isso é entrar em um teatro escuro e compartilh­ar algo aterroriza­nte com um grupo de estranhos. Este nível de estresse pós-traumático não é exclusivo de Laurie Strode. É universal para todas as mulheres vivas porque as mulheres são oprimidas desde o começo dos tempos. Mais do que isso, as pessoas sentiram a força da violência sexual, criminal, política, emocional e ambiental. Ver uma mulher que conhecemos há 40 anos retomar o poder, de certa forma todos nós podemos nos identifica­r com a mesma garotinha pela qual sofremos há 40 anos.

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UNIVERSAL PICTURES Arrebatado­r. Sequência do original de 1978 rendeu US$ 76,2 mi no primeiro fim de semana

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