O lado ‘C’ dos empreendedores brasileiros
Veja o que donos de negócios de diferentes setores acreditam ser o significado, na prática, de criatividade
Quais são os componentes essenciais para abrir a própria empresa? Em princípio, especialistas frisavam que o alicerce era composto pelo plano de negócios e a estrutura financeira. Em pouco tempo, a gestão de pessoas também passou a ser indispensável. Com a revolução digital, saber usar a tecnologia entrou para a lista de premissas básicas. Já nos últimos anos, a palavra de ordem é inovação e, seja disruptiva ou incremental, o empreendedor agora precisa dela na base de sustentação do negócio. Para ligar todos esses pontos e, finalmente, colocar a empresa para funcionar, só mesmo com muita criatividade. Uma palavra que tem diferentes significados e que move o empreendedor para diferentes caminhos.
Do pragmático ao conceitual, perguntamos para empresários de diversos setores o que eles entendem por criatividade e como a aplicam em seus negócios.
Cognição. Do mercado de design, Gian Rocchiccioli migrou em 2015 para o segmento de biotecnologia ao se tornar cofundador da TISMOO, empresa com foco no desenvolvimento de testes genéticos para identificar, de forma assertiva e ágil, o transtorno do espectro do autismo e síndromes correlatas.
“Combinamos ciência e tecnologia para acelerar o diagnóstico e proporcionar tratamento de maneira, rápida e eficiente”, diz Rocchiccioli
A empresa desenvolveu uma técnica de criação de ‘minicérebros’, compostos por célulastronco e que dispensa os testes em animais, que já originou resultados transformadores no diagnóstico, evitando imprecisões. Questionado sobre a criatividade desse processo, Rocchiccioli tem uma perspectiva científica para a palavra.
“Criatividade é usar a mente para encontrar os melhores caminhos. É uma dimensão da cognição humana, que proporciona mudança e gera valor. Todo mundo nasce criativo.”
Aplicação. Uma indústria com operação de 2 mil máquinas voltadas à metal mecânico e plástico inteiramente na nuvem comandada de uma mesa em um coworking. Essa é a Peerdustry, startup fundada pelo engenheiro Bruno Gellert em 2016.
“Eu trabalhava em uma empresa na qual vendia máquinas. Em 2014, comecei a identificar que essas máquinas estavam ociosas, resultado do início da crise. Pensei então que minha meta de vender era incompatível com a realidade do mercado. Surgiu a ideia de criar uma rede de compartilhamento de horas, para colocar em uso as máquinas que estavam paradas”, conta Gellert.
Com um pensamento simples, Gellert diz que, na indústria, aplicar o conhecimento de um segmento para o outro é pura criatividade. “O setor trabalha na zona de conforto, fazendo com que muitas ideias não saiam do papel. Agora, se uma pessoa que trabalhou 20 anos na indústria alimentícia aplica seus conhecimentos na indústria farmacêutica, ela consegue trazer soluções inéditas. Isso é uma fonte de criatividade.”
Colaboração. A nutricionista Priscila Sabará sempre enxergou o alimento como entretenimento e forma de interação social. No início da carreira, nada de tabelas nutricionais ou orientações para dietas. Seu primeiro emprego foi em uma consultoria de uma chef renomada, criando e implementando cardápios de bares e restaurantes.
“A cozinha é o lugar mais criativo que existe, porque a combinação de cores, texturas e sabores não tem limites”, acredita.
Em 2012, após uma trajetória consolidada no mercado de gastronomia, Priscila criou a Foodpass, uma plataforma que atua em diferentes frentes: marketing e criação de estratégias de conteúdo para marcas e a indústria de alimentos e o desenvolvimento e produção de eventos, festas, aulas e demais experiências gastronômicas, para reforçar o potencial da gastronomia como entretenimento. O negócio começou com 16 parceiros e hoje conta com 84.
Responsável por eventos gastronômicos que conquistaram os paulistanos nos últimos anos, Priscila acredita na colaboração como ferramenta para criar. “As pessoas descobrem coisas e surge alguém para ligar os pontos. Por isso, a criatividade é colaborativa. Sempre penso em como posso contribuir com uma coisa nova, não copio nada de ninguém.”
Liberdade. Bianca Barbato começou sua carreira no cinema, mas com muita ‘mão na massa’ trabalha com design há 11 anos.
“Eu colecionava alguns objetos, como luminárias. Resolvi começar a fazer uns protótipos por conta própria”, lembra.
Sem se limitar a um tipo específico de objeto ou material, Bianca já criou linhas para a indústria e, claro, tem coleções autorais, como a recém-lançada ‘Lixo’, feita com fundição de metal e moldes que tirou de latinhas amassadas e caixas.
“Para mim, vale mais o que eu quero dizer ou o material que eu quero explorar, e não focar em um tipo apenas de objeto. Criatividade é isso, liberdade de expressão”, pontua.