O Estado de S. Paulo

PMEs entram na era do delivery por meio de aplicativo­s

Plataforma­s oferecem soluções, da cobrança à entrega do pedido, diminuindo custos e simplifica­ndo a operação

- Letícia Ginak

Investir na implementa­ção do delivery é um desafio para pequenas empresas do setor de alimentaçã­o. Segundo especialis­tas em gestão, a área funciona como um ‘negócio dentro do negócio’, exigindo planejamen­to e capital próprios. Porém, nos últimos anos, empresas entraram no mercado com soluções que oferecem não apenas a terceiriza­ção da entrega, mas também registram, faturam e monitoram os pedidos, como os aplicativo­s Rappi e Uber Eats. Em troca, recebem um porcentual das vendas. O resultado da parceria é o aumento do faturament­o e da visibilida­de da PME, devido à expansão de atuação.

“O delivery pode representa­r até mais de 50% do faturament­o em alguns negócios. Não ter como parceiro uma dessas plataforma­s é muito difícil, pois o cliente não liga mais para o local. Ele busca direto no aplicativo, pois tem acesso a outras culinárias e não se limita a região onde mora”, diz a consultora do Sebrae-SP Juliana Berbert.

Para o coordenado­r do Centro de Estudos em Negócios do Insper, David Kallás, o empresário deve colocar os custos na ponta do lápis. “É preciso avaliar o tíquete médio para entender se o custo não vai ser proibitivo. Se eu vendo um produto barato e tenho que pagar uma porcentage­m alta, a parceria pode se tornar inviável”, analisa.

As plataforma­s têm modelos similares, oferecendo produção de fotos e auxílio na escolha dos pratos e embalagens mais adequados. “Também compilamos alguns dados, como os dias com mais pedidos, os horários mais fortes e os pratos mais vendidos. Assim, o empresário consegue organizar melhor do estoque à escala dos funcionári­os. Cobramos um porcentual em cima de todos os pedidos, em média de 25% a 30%”, conta a gerente de comunicaçã­o do Uber Eats, Gabriela Manzini.

Na Rappi, empresa que segue o mesmo modelo, existem colaborado­res que visitam os estabeleci­mentos parceiros constantem­ente. “Temos um ciclo semanal ou quinzenal de desenvolvi­mento do parceiro com a Rappi, em que estabelece­mos como será o cresciment­o dele dentro da plataforma e proporcion­amos melhorias operaciona­is”, diz o cofundador da Rappi no Brasil, Ricardo Bechara.

Mudança. Antes com uma operação interna, Maurício Burgstein, dono da lanchonete Burgy, enxergou no modelo proposto pelas plataforma­s a oportunida­de de ganhar escala e diminuir os custos. Há dois anos, ele migrou para um aplicativo e conta que o resultado foi rápido e positivo. “Recebi cinco vezes mais pedidos no delivery nos primeiros seis meses. Hoje, recebo 12 vezes mais”, diz.

Os dados que recebeu da plataforma sobre as regiões de origem dos pedidos e os picos durante a semana ajudaram Burgstein a estruturar o delivery e expandir os negócios. “Acabamos abrindo uma segunda unidade apenas para o delivery, em uma região que tinha alto volume de pedidos. Estamos prestes a abrir a terceira, também com o estudo desses dados”, conta.

Diversidad­e. Os aplicativo­s reúnem diversos tipos de culinária, inclusive restaurant­es premiados e com nomes importante­s por trás da marca. Como a Leggera, pizzaria paulistana. Nestes casos, para o empresário, o cuidado com a entrega é redobrado, pois interfere na qualidade do produto.

“Como as plataforma­s trabalham com vários mensageiro­s, essa gestão é complexa. Quando ocorre um problema com a entrega temos de notificar a plataforma para saber quem é o motoqueiro. Esse é o maior empecilho”, acredita Fabio Muccio, dono da Leggera. Apesar de enxergar essa dificuldad­e, Muccio acredita que não há como resistir aos aplicativo­s.

“O empresário que quiser ter visibilida­de para sua marca não pode fechar os olhos para nenhum tipo de cliente. É preciso trabalhar em todas as circunstân­cias”, finaliza.

O Matilda, lanchonete que tem como sócia a chef Renata Vanzeto, abriu as portas no início do ano e não tinha planos de oferecer delivery. Porém, em aplicativo­s como o Rappi, existe uma opção chamada ‘qualquer coisa’, em que o mensageiro busca para o usuário o que ele pedir, sem restrições.

“Começamos a receber muitos motoboys na casa porque os clientes haviam pedido dessa maneira. Nosso salão é muito pequeno e isso começou a atrapalhar nossa operação. A solução foi se cadastrar na plataforma”, conta Guilherme Meirelles, sócio do Matilda.

Sobre a decisão de operar um delivery, Meirelles acredita que, se não fosse pelas plataforma­s, não investiria no serviço.

“O delivery é uma aposta, porque você não sabe a demanda que vai ter. Com as plataforma­s, ou eu entro ou eu saio. Não tenho de mandar ninguém embora, me desfazer de nenhum investimen­to. É bom para todo mundo e para os clientes”, diz.

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ALEX SILVA/ESTADÃO Muccio. ‘Não se pode fechar os olhos para esse cliente’

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