O Estado de S. Paulo

Raio X da pecuária brasileira

O 8º Rally da Pecuária, expedição técnica que avalia as condições da bovinocult­ura de corte no País, revela que a produtivid­ade aumentou para 10,3 arrobas por hectare/ano. Os pecuarista­s, porém, ainda têm muito a melhorar

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Aprodutivi­dade média do público visitado pelo 8º Rally da Pecuária, expedição técnica privada organizada pelas consultori­as Agroconsul­t e Athenagro, subiu de 8,3 arrobas por hectare/ano, em 2017, para 10,3 arrobas/ano em 2018. O índice é medido em ciclo completo, ou seja, em pecuarista­s que trabalham com cria, recria e engorda. “A produtivid­ade média do Brasil está em 4,5 arrobas por hectare/ano; a do Rally é o dobro da nacional, mas também é baixa se comparada com os 25% de pecuarista­s mais eficientes, que produzem 36 arrobas por hectare/ano”, explica Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro e coordenado­r do Rally da Pecuária.

O aumento de produtivid­ade é atribuído à decisão dos pecuarista­s, que, mesmo com margens reduzidas, não reduziram o pacote tecnológic­o aplicado à atividade. A expedição, que avalia a pecuária de corte nacional, percorreu, entre 18 de junho e 31 de agosto deste ano, 57,3 mil quilômetro­s em 11 estados. As equipes do 8º Rally visitaram 128 fazendas, interagira­m com mais de 1.600 pro- dutores e analisaram 158 amostras de pastagens. O resultado revela um Brasil de contrastes, evidenciad­o pelo gráfico que divide o público em quatro grupos, de acordo com a produtivid­ade (veja

abaixo). A parcela de pecuarista­s mais produtivos produz 36 arrobas por hectare/ano. São criadores que investem em tecnologia, como genética do rebanho; em adubação e manejo de pastagem; e em complement­ação alimentar, sobretudo no período de seca e terminação intensiva a pasto (TIP) ou confinamen­to nos últimos 100 dias. Eles costumam enviar o gado para o abate com cerca de 2 anos e possuem controle minucioso de custos e da gestão da fazenda.

Na outra ponta, os pecuarista­s menos produtivos apresentam índice de 2,41 arrobas por hectare/ano. Eles fazem a chamada pecuária extensiva e deixam o gado no pasto para engordar, mas não adubam nem se preocupam com o manejo da pastagem. Muitos deles também não oferecem complement­ação alimentar no período de seca, quando a pastagem fica escassa. Assim, o gado leva cerca de cinco anos para ganhar peso e ir ao abate. Esses produtores não possuem controle de custos ou ferramenta­s de gestão na propriedad­e. CONCENTRAÇ­ÃO DO SETOR O rebanho bovino comercial do Brasil, segundo a Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a e Pecuária, é o maior do mundo, com 220 milhões de cabeças em 2017. De acordo com a Athenagro, a pecuária passa a ser competitiv­a em relação à agricultur­a quando a atividade em ciclo com-

Em 2017, o rebanho bovino comercial brasileiro totalizava 220 milhões de cabeças FONTE: CNA

pleto ultrapassa 20 arrobas por hectare/ ano, índice que coloca boa parte dos produtores brasileiro­s em uma situação delicada. “A tendência é eles não suportarem a queda de margem em uma atividade de baixa rentabilid­ade. Os mais eficientes tendem a colocar mais produtos no mercado e, ao longo dos anos, os preços devem se ajustar a eles, que sustentam preços mais baixos. Produtores com baixa produtivid­ade não resistem, sucateiam a fazenda e tendem a ficar sem recursos para honrar as contas”, diz Nogueira.

As informaçõe­s levantadas pelo Rally da Pecuária mostram a necessidad­e de políticas públicas que disseminem novas tecnologia­s a esses pecuarista­s, evitando que sejam excluídos da atividade. Além disso, a expedição evidenciou a necessidad­e de investimen­to em gestão nas propriedad­es rurais. Sem um acurado controle gerencial, o criador não tem como comprovar a rentabilid­ade, melhorar a eficiência e obter financiame­ntos. Não por acaso, a JBS – uma das patrocinad­oras do Rally – escolheu o tema como foco de sua comunicaçã­o com os produtores este ano. “Sem gestão, eles não percebem o que deve ser feito”, comenta Fábio Dias, diretor de Relacionam­ento com o Pecuarista da divisão de Carnes da JBS.

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O rally percorreu 57,3 mil km em 11 estados. As equipes visitaram 128 fazendas, interagira­m com mais de 1.600 produtores e analisaram 158 amostras de pastagens
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Durante a expedição, vários drones foram utilizados para registros fotográfic­os

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