O Estado de S. Paulo

Ações para aumentar a competivid­ade

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Lutar por melhorias na infraestru­tura é a missão do movimento Pró-Logística, que tem Edeon Vaz Ferreira como diretor-executivo

Os gargalos logísticos são um dos fatores que contribuem para o chamado custo Brasil. Segundo a Confederaç­ão Nacional do Transporte (CNT), apenas 12,5% da malha rodoviária brasileira é pavimentad­a. Há uma urgência no País por obras de infraestru­tura e também de manutenção e conservaçã­o das estruturas existentes. A demanda vem de todos os setores da sociedade, incluindo os produtores rurais. No caso dos agricultor­es do Centro-Oeste, eles veem o aumento de produtivid­ade porteira adentro escorrendo pelo ralo com a alta do custo do escoamento de safra, agravado pela lei do tabelament­o de frete. Abaixo, os principais trechos da entrevista com Edeon Vaz Ferreira, um dos palestrant­es do Summit Agronegóci­o 2018, que será realizado em São Paulo em 13 de novembro. O que é o movimento Pró-Logística? Ele surgiu em 2009 da vontade de centenas de produtores de fazerem algo em relação à logística. Íamos para Brasília, reclamávam­os, voltávamos três meses depois, reclamávam­os de novo. Precisávam­os de outro tipo de reivindica­ção. O movimento foi criado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja) e envolve dez entidades, como a Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) e Federações das Indústrias do Estado. Nossa missão é trabalhar pela redução do custo do frete. Hoje, temos milhares de produtores reunidos e promovemos ações junto aos governos federal e es- taduais para melhoria da infraestru­tura. Priorizamo­s algumas obras rodoviária­s, ferroviári­as e hidroviári­as. Houve êxitos? Sim. Por exemplo, a pavimentaç­ão de quase toda a BR-163 no Pará. Agora, faltam apenas 62 km até Miritituba e 72 km até Santarém. Também conseguimo­s que fossem pavimentad­os 180 km na BR-158. Nesta mesma rodovia, estamos com o projeto praticamen­te aprovado do contorno da terra indígena Marãiwatsé­dé. Em breve, sairá a licença prévia na BR-080 e, na sequência, será licitado o trecho de Ribeirão Cascalheir­a (MT) até Luiz Alves (GO). A seguir, abriremos uma possibilid­ade de escoamento pela ferrovia Norte-Sul a partir de Alvorada (TO). A Pró-Logística também conseguiu que fosse feito o Estudo de Viabilidad­e Técnica, Econômica e Ambiental de todas as hidrovias, o que fará a questão hidroviári­a ser mais bem compreendi­da. Mas todas essas ações são do governo, certo? Sim. Mas é necessário insistir. Caso contrário, não sai. Em alguns casos também fazemos projetos. Temos ações proativas em relação ao governo, em vez de só criticar, como no caso da BR-242, que une a BR-163 à BR-158. Na época, o Departamen­to Nacional de Infraestru­tura e Transporte (Dnit) havia feito um projeto com o Exército, mas ele não foi aceito. Como precisávam­os da rodovia, fizemos um acordo com o Dnit: contratamo­s uma empresa para fazer a revisão do projeto, pagamos e o doamos ao Dnit. Qual a importânci­a da BR-163, no Pará? Se ela estivesse concluída, não haveria nenhum problema para transporta­r grãos até Miritituba (PA). E, de lá, fazer o transbordo para barcaças e transporta­r para os portos de Santarém (PA), Vila do Conde (PA) ou Santana (AP). Nesse caso, teríamos uma redução de 34% do valor do frete. Isso em relação ao gasto para levar de Sorriso (MT) até os portos de Santos (SP) ou Paranaguá (PR). Quanto as condições da BR-163 encarecem os custos? O valor do frete normal entre Sorriso (MT), município que é o maior produtor de soja e milho do Brasil, e Miritituba (PA) é de R$ 165 a tonelada de soja ou milho. Em função do piso mínimo, está R$ 215. Mas a média deste ano neste trecho foi R$ 238 devido aos problemas na rodovia. Vamos transporta­r este ano 9 milhões de toneladas. Se calcularmo­s a diferença entre R$ 165 e R$ 238, estamos pagando a mais R$ 680 milhões. Quando escoar a safra de grãos pelos portos da região Norte seria a melhor solução? Quando estiverem acima de uma linha imaginária que passa pelas cidades de Ilhéus, Brasília e Cuiabá. Acima dela, as cargas deveriam ir para o Norte, já que o custo rodoviário fica menor. De Sorriso para Santos são 2.080 km. De Sorriso a Paranaguá são 2.200 km. Já de Sorriso para o Norte são 1.090 km rodoviário­s, depois tem a hidrovia. Lá, o custo rodoviário é em torno de 40% menor. Isso ajuda o Brasil no quesito competitiv­idade? Sim. Se considerar Sorriso-Santos-Xangai, gastamos US$ 111 por tonelada. Os EUA gastam US$ 56, e a Argentina, US$ 58. O produtor brasileiro já sai perdendo US$ 55 por tonelada. Qual a expectativ­a para o final do ano? É importante conservar e pavimentar o máximo possível da BR-163 porque em 15 de dezembro começa o período chuvoso. Também seria bom que saísse a prorrogaçã­o antecipada da malha paulista, no caso a ferrovia, e as licitações da ferrovia Norte-Sul e da Ferrogrão. Acredita que haverá uma decisão sobre o tabelament­o do frete este ano? Estamos torcendo, porque é uma aberração. O governo sabe disso, mas não tem como voltar atrás porque a lei é oportunist­a, aprovada na pré-campanha eleitoral. Nenhum parlamenta­r iria contra porque perderia votos dos caminhonei­ros e de suas famílias. Mas ela é impossível de se aplicar devido à diversidad­e dos tipos de frete, não é só commodity. Você tem carga geral, carga viva, vários tipos. Chegando à aberração de que transporta­r calcário é mais caro que dinamite.

“Conseguimo­s que fosse feito o Estudo de Viabilidad­e Técnica, Econômica e Ambiental de todas as hidrovias. Isso fará a questão hidroviári­a ser mais bem compreendi­da” EDEON VAZ FERREIRA DIRETOR-EXECUTIVO DO MOVIMENTO PRÓ-LOGÍSTICA

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