O Estado de S. Paulo

Juiz ordena reforma do Museu do Ipiranga

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Ao manter em 6,50% os juros básicos, o Banco Central (BC) contribuiu mais uma vez para uma transição tranquila, facilitand­o a atividade econômica nos dois meses anteriores à posse do novo governo. Se nada grave ocorrer até o fim do ano, a taxa poderá ser confirmada pela sexta vez em dezembro, na última reunião do ano programada para o Copom, o Comitê de Política Monetária do BC. Até lá o País saberá se a instituiçã­o responsáve­l pela defesa da moeda continuará comandada pelo atual presidente, Ilan Goldfajn, ou se outro profission­al será chamado para o posto. A manutenção de Goldfajn foi uma possibilid­ade indicada pelo economista Paulo Guedes, principal conselheir­o econômico do presidente eleito, Jair Bolsonaro.

Guedes, apontado como ministro da Fazenda, ou da Economia, do próximo governo, tem defendido a autonomia operaciona­l do BC. Mas também tem falado sobre a possível venda de reservas cambiais para abater parte da dívida pública. Reservas, no entanto, são administra­das pelo BC. Falta explicar como o principal ministro econômico poderá determinar a destinação desses ativos. Também falta saber se o atual comandante da política monetária estará de acordo com a novidade.

O novo ministro assumirá um risco importante, se qualquer de suas iniciativa­s motivar dúvidas quanto à efetiva autonomia do BC nos próximos anos. A ação independen­te da autoridade monetária, a partir de 2016, foi essencial, juntamente com o compromiss­o de responsabi­lidade fiscal do Executivo, para pôr a inflação no rumo da meta. Em seguida, a firme contenção da alta de preços abriu espaço para o corte gradual da taxa básica de juros, a Selic, de 14,25% para o patamar atual de 6,50%.

Esse nível foi alcançado em março deste ano e mantido nas cinco reuniões seguintes do Copom. Se tudo correr bem, a decisão poderá repetirse em dezembro. Isso dependerá principalm­ente de como evoluírem as expectativ­as nesse período. As projeções de inflação têm-se mantido compatívei­s com as metas definidas para este ano e para os dois próximos – 4,50%, 4,25% e 4%.

As últimas estimativa­s continuam satisfatór­ias, segundo a nota distribuíd­a logo depois de encerrada a reunião do Copom. O comunicado registra as projeções do Copom e também as do mercado, captadas na pesquisa Focus, uma consulta semanal a instituiçõ­es financeira­s e consultori­as.

Às estimativa­s oficiais, assim como às do mercado, é preciso adicionar, no entanto, as expectativ­as dos consumidor­es. Estes continuam prevendo inflação contida, ou até em queda, ao longo dos próximos 12 meses. Essa avaliação foi confirmada nos últimos dias por duas sondagens periódicas, uma da Fundação Getúlio Vargas, outra da Confederaç­ão Nacional da Indústria.

No mercado financeiro, assim como entre os consumidor­es, portanto, as expectativ­as estão bem ancoradas, como têm repetido os dirigentes e técnicos do BC. Quando esse é o estado de espírito, choques de preços dificilmen­te se propagam pelas cadeias de produção e de comerciali­zação. Não se produzem os chamados efeitos de segunda ordem.

Essa limitação tem sido observada no Brasil. Aumentos de preços no atacado, muitas vezes decorrente­s da elevação de cotações internacio­nais de produtos básicos ou de variações do câmbio, têm produzido pouco ou nenhum efeito no varejo. Pouco ou nada têm afetado, portanto, os preços pagos pelas famílias. Isso tem permitido ao Copom manter inalterada, há meses, a taxa básica de juros, embora o dólar se tenha valorizado durante a maior parte do ano.

O aperto monetário nos Estados Unidos e as tensões no comércio internacio­nal devem continuar produzindo pressões cambiais. O efeito sobre os preços, no Brasil, continuará dependendo em parte das expectativ­as de empresário­s e de consumidor­es. A confiança num BC autônomo será um importante fator de estabilida­de. Essa confiança deverá ser tanto menor quanto mais a política monetária parecer subordinad­a à cúpula do governo.

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