Defesa prepara HC para Lula alegando parcialidade de Moro
Lideranças do PT dizem que ida de juiz para ministério comprova tese de que suas decisões tiveram motivação política
A escolha de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça do governo Jair Bolsonaro será usada como argumento de defesa do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato. Ontem mesmo, pouco depois de o juiz aceitar o convite, os advogados de Lula começaram a preparar um habeas corpus a ser protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo pessoas com acesso à defesa de Lula, os advogados vão alegar que a ida de Moro para o ministério comprova a tese de que o juiz foi parcial e tinha motivações políticas para condenar o ex-presidente e tirá-lo da corrida presidencial.
Um dos argumentos será a declaração do vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, de que o convite a Moro foi feito ainda durante a campanha eleitoral e que o juiz liberou a delação do ex-ministro Antonio Palocci, cujo principal alvo é Lula, apenas seis dias antes do primeiro turno das eleições.
A avaliação no PT é que a ida de Moro para o governo Bolsonaro fecha a narrativa pela qual o juiz condenou Lula sem provas com o objetivo de tirá-lo da disputa eleitoral.
“É uma indecência. Mostra claramente que ele (Moro) sempre misturou a atividade jurisdicional dele com a política”, disse o deputado Wadih Damous (PT-RJ), que integra a defesa do ex-presidente.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, visitou Lula em Curitiba ontem e, na saída, afirmou que o ex-presidente está “indignado com a nomeação de seu algoz” para o primeiro escalão do governo Bolsonaro. Segundo ela, Lula disse que “em vez de apresentar prova contra mim, aceita ser ministro”.
Pela narrativa do PT, Moro age com motivações políticas desde que tornou público o grampo entre Lula e a então presidente Dilma Rousseff, em março de 2016, passando pela condenação e prisão de Lula e culminando com a ida do juiz para o ministério.
“Ao aceitar o convite para ser ministro da Justiça, Moro revelou definitivamente sua parcialidade como juiz e suas verdadeiras opções políticas. Sua máscara caiu”, diz nota do PT.
O partido vai pedir do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) coloque em pauta a denúncia feita pelas bancadas petistas no Congresso sobre supostas irregularidades na divulgação do grampo entre Lula e Dilma.
Ontem o advogado do petista, Cristiano Zanin Martins, disse em nota que “a formalização do ingresso do juiz Moro na política e a revelação de conversas por ele mantidas durante a campanha com a cúpula da campanha do presidente eleito provam definitivamente o que sempre afirmamos: Lula foi processado, condenado e encarcerado sem que tenha cometido crime, com o claro objetivo de interditá-lo politicamente”.
“Ao aceitar o convite para ser ministro da Justiça, Moro revelou definitivamente sua parcialidade como juiz e suas verdadeiras opções políticas. A máscara caiu.” NOTA PÚBLICA DO PT