Trump impõe sanções a Venezuela, Cuba e Nicarágua, a ‘troika da tirania’
John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional, anuncia punições durante evento em Miami com dissidentes latino-americanos; sul da Flórida foi escolhido para anúncio porque candidato republicano corre risco de ser derrotado na terça-feira
O governo do presidente Donald Trump cunhou o termo “troika da tirania” para descrever um grupo de regimes opressores da América Latina – Venezuela, Cuba e Nicarágua – contra o qual anunciou sanções ontem. As punições foram reveladas pelo conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, em Miami, diante de dissidentes latino-americanos.
Nos últimos dias, Trump acentuou medidas em temas ligados a imigrantes, o que analistas veem como uma tentativa oportunista de mobilizar o eleitorado republicano para a eleição de terça-feira. “Os EUA tomarão ações diretas contra esses três regimes para defender o estado de direito, a liberdade e a mínima decência humana em nossa região”, declarou Bolton.
O conselheiro falou a um público que deixou Cuba e Venezuela para escapar dos regimes dos Castros e de Nicolás Maduro, respectivamente. Segundo o Bolton, a Casa Branca terá agora uma “nova e ampla abordagem” em um esforço de combater o que vê como o surgimento de uma “esquerda antidemocrática na região”.
“Essa troika da tirania, esse triângulo do terror que vai de Havana a Caracas e Manágua, é a causa do imenso sofrimento humano, da impiedosa e enorme instabilidade regional e a gênese do berço sórdido do comunismo na região”, disse Bolton na Freedom Tower, um prédio simbólico onde o governo recebeu muitos refugiados nos anos 60 que deixaram Cuba sob o regime de Fidel Castro. “Os EUA esperam para assistir a cada ponta desse triângulo cair. A troika vai desmoronar.”
Eleições. A escolha de Bolton pelo sul da Flórida para fazer seu discurso, a poucos dias das eleições de meio de mandato, na terça-feira, não foi coincidência. No Estado, o deputado republicano Carlos Curbelo, filho de imigrantes cubanos, está defendendo sua reeleição em um distrito que preferiu Hillary Clinton com 16 pontos porcentuais a mais do que Trump, nas eleições presidenciais de 2016.
A jornalista Maria Elvira Salazar, também republicana e filha de imigrantes cubanos, está disputando com Donna Shalala, ex-funcionária do governo de Bill Clinton, a cadeira da republicana Ileana Ros-Lehtinen, que está se aposentando. O partido do presidente Trump se esforça para não perder a maioria na Câmara e no Senado.
Fontes do governo insistem que a nova política para a América Latina não é apenas bravata para convencer os eleitores a votar, segundo reportagem do Washington Post. Elas afirmam que, assim que as eleições tiverem passado, o governo usará todos os seus recursos para aumentar a pressão sobre os líderes desses três governos.
Contra a Venezuela, a Casa Branca mirou o setor do ouro. De acordo com as sanções já existentes, nem a Venezuela nem a petrolífera estatal PDVSA podem liquidar a dívida nos EUA, o que na prática fecha o mercado para o país. De acordo com o Post, o objetivo da ordem executiva de Trump contra o ouro venezuelano é uma tentativa de interromper o comércio entre Caracas e Turquia, que Washington teme estar reduzindo o impacto de seus esforços para pressionar Maduro e outros membros do governo.
Ainda que seu alvo inicial seja o setor do ouro, a ordem executiva de Trump dá aos departamentos de Estado e do Tesouro autoridade para adicionar outras indústrias no futuro. “As novas sanções miram redes de operação com setores da economia venezuelana corruptos, para negar-lhes acesso a riquezas roubadas”, afirmou Bolton.
Com relação a Cuba, o Departamento de Estado aumentou a lista de empresas com restrições nos EUA. “O Departamento de Estado acrescentou várias entidades, pertencentes ou controladas pelos militares cubanos ou pelos serviços de inteligência, à lista de entidades cujas transações financeiras são proibidas para pessoas nos EUA”, segundo Bolton.
De acordo com ele, a medida inclui ações concretas para impedir que os dólares americanos cheguem aos militares cubanos e ao setor de segurança e de inteligência.
Sobre a Nicarágua, Bolton afirmou que o governo do presidente Daniel Ortega usou a força para reprimir seus oponentes políticos. Segundo o conselheiro de Trump, ele sentirá “no futuro próximo” todo o peso “de sanções americanas robustas contra seu regime”.
“Essa troika da tirania, esse triângulo do terror que vai de Havana a Caracas e Manágua, é a causa do imenso sofrimento humano, a gênese do berço sórdido do comunismo no Ocidente” John Bolton
CONSELHEIRO DE SEGURANÇA DE TRUMP
Bolsonaro. Bolton também falou da vontade da Casa Branca de estreitar relações com “governos responsáveis”, como os de “México, Colômbia, Argentina e Brasil” para “fazer avançar o estado de direito e aumentar a segurança e a prosperidade”. O conselheiro mencionou o que chamou de “sinais positivos” com a chegada à presidência de Jair Bolsonaro e de Iván Duque, na Colômbia.