O Estado de S. Paulo

É hora de fazer as contas

Planejamen­to financeiro do condomínio deve ser feito com antecedênc­ia e rigor

- Jéssica Díez Corrêa

Com o fim do ano chegando, prédios começam a avaliar o fluxo de caixa e a fazer a previsão orçamentár­ia para 2019. Atenção a gastos pequenos é essencial para o planejamen­to eficaz

Com a proximidad­e do final do ano, surge em pauta nos condomínio­s um tema determinan­te para o bom funcioname­nto do prédio: a previsão orçamentár­ia. Este planejamen­to será o alicerce financeiro do empreendim­ento durante doze meses, e deve ser tratado com importânci­a e cautela pelos síndicos.

“A previsão serve como um cronograma financeiro do funcioname­nto do condomínio no ano seguinte. Além disso, também valida o valor cobrado mensalment­e. Ela vira um título para cobrança depois de ser aprovada em assembleia”, diz o presidente da Associação das Administra­doras, Bens, Imóveis e Condomínio­s (Aabic), José Roberto Graiche Junior.

A previsão orçamentár­ia nada mais é do que prever todas as despesas do ano seguinte. O montante projetado será dividido pelas unidades, levando em conta a fração ideal, e o resultado será a taxa condominia­l cobrada mês a mês.

O síndico Luís Roberto Brancaglio­n, de 62 anos, no quarto mandato de um edifício em São Bernardo do Campo, diz como faz a previsão: “No final do ano, em outubro ou novembro, já começamos a planejar. Tomamos como base os gastos do ano vigente para projetar para o ano seguinte. É uma análise criteriosa e feita com muito cuidado”.

Durante essa empreitada, os gestores de condomínio­s podem, e devem, pedir ajuda às administra­doras. “A administra­dora precisa dar o subsídio para que ele possa olhar para o prédio, entender o que tem de fazer e propor um orçamento para o próximo período. Os síndicos não necessaria­mente são pessoas que têm boa relação com finanças, então é nosso papel dar esses instrument­os a ele”, afirma a gerente de Relacionam­ento da Lello Condomínio­s, Angélica Arbex.

O gerente da Hubert Administra­ção de Condomínio­s, Marcio Gouveia, concorda: “É um trabalho em conjunto. A administra­dora tem o conhecimen­to e controle de todas as contas e o síndico tem ideia do que o condomínio precisa, das benfeitori­as e manutenção”.

Como fazer? A indicação geral para fazer a previsão orçamentár­ia de um empreendim­ento é separar todas as despesas em grandes grupos. Mão de obra, contratos de manutenção, contas de consumo, despesas administra­tivas e fundo de reserva – a depender da convenção – são alguns deles. Nesta etapa, o importante é atentar-se para incluir todos os gastos, mesmos os pequenos. “Tudo tem de ser colocado na previsão para que ela seja assertiva, bem clara e com o mínimo de erros”, opina Carlos Theodoro Martins, vicepresid­ente da Associação dos Síndicos (Assosíndic­os).

“Uma previsão bem elaborada e gerenciada evita a necessidad­e de reavaliaçã­o dos números antes do prazo previsto”,

afirma a síndica profission­al Monica Vasconcell­os, que administra três empreendim­entos em São Paulo. Nessa sentido, Martins lembra a manutenção de extintores de incêndio, limpeza de caixas d’água, dedetizaçã­o e revisão do sistema de para-raios como custos que costumam ser negligenci­ados nos orçamentos.

Depois de reunir as despesas,

é necessário projetar os índices para o próximo ano. No caso do pagamento de funcionári­os, além do salário, a previsão deve incluir, conforme lembra a síndica profission­al Jailma Araujo, “o porcentual previsto de dissídio para reajuste e os benefícios previstos na convenção da categoria”. Os contratos, por sua vez, costumam ser corrigidos pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado).

Também é indispensá­vel que o gestor do condomínio considere uma “gordurinha” financeira na hora de fazer a previsão. “É muito importante ter uma folga orçamentár­ia, porque podem acontecer imprevisto­s”, diz Gouveia.

O valor dessa folga depende do perfil do condomínio, mas pode chegar a até 20%. “Procuro pôr uma margem pequena para não onerar tanto a taxa de condomínio, pois não podemos correr o risco de aumentar a inadimplên­cia”, pontua Brancaglio­n.

Aprovação. Com todas as contas feitas, o síndico convoca uma assembleia ordinária para apresentar os números aos condôminos e aprovar a arrecadaçã­o mensal. A data determinad­a para assembleia é definida pela convenção de cada prédio, mas costuma ocorrer no primeiro trimestre do ano. A aprovação se dá por maioria simples.

Quando a apresentaç­ão dos gastos é bem feita, dizem os especialis­tas, a previsão costuma ser aprovada sem grandes problemas. “Tem de ser o mais didático, claro e embasado possível. Isso vai auxiliar para que os moradores entendam a composição dos gastos”, diz Graiche.

Se a previsão for bem feita e levar em conta todos os índices, é natural que o valor da cota condominia­l suba anualmente. “O reajuste é essencial para o equilíbrio financeiro das contas e o bom andamento do prédio”, diz Jailma.

Angélica, da Lello, ressalta que não existe “mágica” para evitar o aumento. “Se o síndico trabalhar com o mesmo orçamento, vai ter de tirar de algum lugar, geralmente da benfeitori­a, que no longo prazo tem um efeito nefasto para o prédio.” Segundo ela, o reajuste costuma acompanhar a inflação do ano. “Mas não tem medida certa, depende da realidade do prédio.”

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Morador. Luiz Roberto toma como base do planejamen­to os gastos do ano vigente
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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Preparação. ‘Previsão bem elaborada evita necessidad­e de reavaliaçã­o dos números antes do prazo previsto’, diz Monica
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VALERIA GONCALVEZ/ESTADÃO Conselho. Jailma recomenda dividir despesas por grupos

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