O Estado de S. Paulo

Iranianos temem por futuro com sanções

Restabelec­imento das restrições dos EUA ao Irã causa pânico entre aqueles que viram economia melhorar após acordo firmado em 2015

- TEERÃ

As sanções internacio­nais dos Estados Unidos ao Irã voltaram a valer hoje, e já causam temor entre os iranianos que viram a economia melhorar após o acordo nuclear firmado em 2015 com seis países. As medidas haviam sido suspensas pelo tratado, coordenado pelo governo do então presidente Barack Obama. Em maio, porém, o presidente Donald Trump retirou o país do pacto.

“Já sentimos o efeito da decisão. As minhas prateleira­s estão vazias, meus depósitos estão vazios e logo vou ter que fechar. Isso foi a minha vida. Não irei sobreviver muito mais depois que fechar as portas”, afirmou a AFP Heidar Fekri, de 70 anos, que vende equipament­os industriai­s em sua pequena loja no bazar de Teerã desde antes da revolução.

A economia iraniana já tinha muitos problemas antes de Trump decidir abandonar o acordo nuclear de 2015. A decisão agravou a desvaloriz­ação da moeda iraniana, que sofreu uma baixa de 70% no ano passado e provocou o êxodo de empresas estrangeir­as. O retorno do embargo ao petróleo já afundou o país em uma recessão e, no ano que vem, provocará uma queda de 3,6% da economia iraniana, segundo o Fundo Monetário Internacio­nal.

Quase todos os produtos no Irã, desde remédios até peças de reposição de aeronaves, estão ligados à cadeia mundial de fornecimen­to e, por isso, o novo isolamento ameaça toda a sociedade. O governo se viu forçado a entregar cestas de alimentos para cerca de metade dos lares à medida que a inflação disparava.

Washington diz que as sanções têm por objetivo reduzir a “desestabil­izadora” atividade do Irã no Oriente Médio, mas para muitos é uma tentativa de detonar uma revolução.

Existe muito ódio com o governo Trump, mas uma surpreende­nte quantidade de iranianos culpa o próprio Executivo por não protegê-los melhor.

“Sim, os Estados Unidos estão fazendo coisas ruins, mas velam por seus interesses. Se o nosso Estado tivesse velado pelos interesses do Irã, não teríamos a situação que temos agora”, considera Erfan Yusufi, de 30 anos, dono de uma cafeteria.

Para a classe média, o pior golpe talvez seja o psicológic­o, já que a esperança surgida com o acordo nuclear se esvai. Entre os jovens, a situação é ainda mais dramática. A taxa de desemprego entre a juventude iraniana chegou a 28,5% em julho deste ano.

Os jovens iranianos se referem a si mesmos como a “geração perdida”, pois tiveram negada a oportunida­de de desenvolve­r seu potencial. “O futuro me preocupa”, diz Yusufi. “Nossa geração começa cada dia sem saber o que será de nós”, conclui.

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MORTEZA NIKOUBAZL/REUTERS Temor. Comércio em Teerã já sente efeitos das sanções

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