O Estado de S. Paulo

Ultradirei­ta sofre derrota em eleições municipais.

Partido extremista, no poder desde 2015, perdeu eleições nas principais cidades polonesas, interrompe­ndo avanço de onda nacionalis­ta

- VARSÓVIA

O partido populista de extrema direita Lei e Justiça, no poder na Polônia desde 2015, sofreu uma dura derrota nas eleições municipais do fim de semana e não conseguiu vencer nas principais cidades do país. A vitória dos partidos de centro indica uma pausa na onda nacionalis­ta polonesa e aponta para uma mudança do eleitorado em importante­s votações nos próximos dois anos.

Dentre os 107 maiores municípios, o partido de extrema direita conquistou apenas 6 prefeitura­s, sendo a maior delas Zamosc, com uma população de 65 mil habitantes. A derrota é um sinal de que o Partido Lei e Justiça, ainda popular com o eleitorado rural conservado­r, luta para conseguir apoio em áreas urbanas, apesar da aceleração da economia e de benefícios sociais a famílias.

As eleições locais do fim de semana deram início a várias votações que serão cruciais para o rumo da Polônia nos próximos anos, incluindo a eleição de maio, para representa­ntes do Parlamento Europeu, a escolha do Parlamento nacional, no fim de 2019, e uma eleição presidenci­al, na primavera de 2020.

A derrota do Lei e Justiça não afeta de modo imediato o governo formado em 2015, mas indica uma profunda mudança no eleitorado, que tornará inviável ao partido ter maioria no Parlamento nas eleições de 2019, decisivas para a sigla cumprir sua promessa de alterar a Constituiç­ão.

“As eleições mostram que a Polônia está profundame­nte dividida, entre uma população rural conservado­ra e anti-Europa, e uma urbana mais cosmopolit­a e liberal”, afirmou ao New York Times Rafal Chwedoruk, cientista político da Universida­de de Varsóvia. “O partido não conseguiu convencer os eleitores metropolit­anos liberais de que o Lei e Justiça é um partido moderado.”

No primeiro turno, em 21 de outubro, uma coalizão da oposição, liderada pelo partido centrista Plataforma Cívica, ganhou a capital, Varsóvia, e outras cidades-chave, incluindo Wroclaw, Poznan e Lodz. No domingo, foram escolhidos os prefeitos de 649 municípios da Polônia, com 37 milhões de habitantes, em uma vitória esmagadora para políticos da oposição em outras cidades, como Cracóvia, Gdansk e Kielce.

“Essas eleições são como um plebiscito para o programa transforma­dor, mas altamente controvert­ido, de reformas socioeconô­micas e sistêmicas do governo”, afirmou Aleks Szczerbiak, professor da London School of Economics. A votação era um teste de popularida­de para o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, que assumiu em dezembro e tem sido o foco da campanha nacional do partido.

“Morawiecki cresceu rapidament­e e é um dos políticos mais populares da Polônia, alardeado como sucessor do líder do partido, Jaroslaw Kaczynski, mas essa derrota pode abalar

sua imagem.”

Os resultados das eleições para prefeito se provaram um estímulo ao Plataforma Cívica e a outros partidos de oposição. No entanto, analistas advertem que os votos foram contra o governo e a oposição precisa aumentar seu apelo entre os eleitores rurais se quiser ter uma chance de governar.

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DAREK DELMANOWIC­Z/EFE Desafio. Apuração na cidade de Przemysl: próximas votações serão cruciais para o futuro do nacionalis­mo na Polônia

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