O Estado de S. Paulo

Nova crise atinge Fifa e Infantino fica sob suspeita

Cartola suíço teria mantido conversas e oferecido ingressos para procurador­es que investigav­am a entidade

- Jamil Chade / BERNA

Novas revelações colocam o presidente da Fifa, Gianni Infantino, no centro de uma tempestade faltando menos de um ano para as eleições que definirão o comando da entidade máxima do futebol a partir de 2019. O suíço, que é candidato à reeleição, teria mantido conversas com os procurador­es em Berna que tinham como função investigar a própria Fifa e até oferecido entradas para jogos internacio­nais.

Os detalhes fazem parte das informaçõe­s contidas em emails e documentos eletrônico­s divulgados por 15 jornais na Europa no que está sendo chamado de Football Leaks.

Em 2016, logo depois de ser eleito presidente da Fifa, Infantino estaria preocupado diante da operação do Ministério Público na sede da Uefa, onde ele foi por anos o secretário-geral. Para obter favores, o cartola entrou em contato com um amigo de infância na cidade de Brig, o procurador Rinaldo Arnold.

Em abril de 2016, o procurador enviou um e-mail a “Gianni” indicando que ele estaria disposto

a interceder para que seu nome fosse mantido sob certa proteção. “Se você quiser, eu posso tentar conseguir que o MP publique um comunicado de imprensa que explique que não existe um processo contra você”, escreveu Arnold.

De acordo com a revista alemã Spiegel, o procurador teria obtido informaçõe­s internas sobre o caso, com a ajuda de outro suíço, Andre Marty, o chefe de comunicaçõ­es do MP.

Num outro e-mail, Rinaldo Arnold explica a Infantino que um encontro estava sendo organizado entre os procurador­es e a Fifa. “Andre (Marty) me disse que haverá uma reunião nos próximos dias entre o Ministério Público e a Fifa”, escreveu.

O procurador garantiu que não abusou de suas funções. “Marty é um amigo e é sob essa condição que eu o contatei”, disse. Ele usou o mesmo argumento para justificar sua tentativa de ajudar num encontro entre Infantino e o procurador-geral da Suíça, Michael Lauber.

Infantino ainda concedeu ao procurador ingressos para jogos internacio­nais e ainda o convidou para o Congresso da Fifa, no México. Arnold insiste que não vê problemas com isso e que ele pagou pela passagem e noites de hotel.

Os documentos também revelam como ele forçou a troca do investigad­or chefe da entidade, retirando de cena um experiente advogado e colocando em seu lugar Maria Clara Rojas, uma colombiana sem qualquer tipo de experiênci­a.

Infantino ainda interferiu na elaboração do novo código de Ética da Fifa, sugerindo mudanças unilaterai­s e aplaudindo a decisão de colocar um limite de dez anos para que um caso possa ser investigad­o. Se não bastasse, teria acobertado infrações financeira­s de dois clubes, o Manchester City e o PSG, evitando que fossem punidos com multas e até eventual exclusão das competiçõe­s europeias. Na época, Infantino era o secretário-geral da Uefa, entidade responsáve­l por fiscalizar estas regras.

O PSG teria recebido cerca de ¤ 100 milhões (R$ 425 milhões, na cotação atual) em investimen­tos externos em 2015. Mas o limite imposto pelo fair-play financeiro é de apenas ¤ 15 milhões (R$ 63 milhões). O Manchester City, por sua vez, teria embolsado ¤ 26 milhões (R$ 110 milhões) acima do permitido.

A resposta de Infantino veio em nota publicada no site da Fifa, em que a entidade faz longo discurso antes de apresentar a defesa. “É sempre um desafio mudar as coisas, avançar e unir as pessoas para fazer as coisas melhor. E, como estamos implementa­ndo reformas na Fifa, foi sempre claro para mim que eu enfrentari­a uma forte oposição, principalm­ente daqueles que não podem mais lucrar descaradam­ente com o sistema do qual faziam parte”, disse Infantino.

 ?? MARTIN ACOSTA/REUTERS – 12/4/2018 ?? Mandato. O suíço Gianni Infantino vai tentar reeleição ao cargo de presidente da Fifa
MARTIN ACOSTA/REUTERS – 12/4/2018 Mandato. O suíço Gianni Infantino vai tentar reeleição ao cargo de presidente da Fifa

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