O Estado de S. Paulo

Sono tranquilo e mesa farta

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Foram horas de viagem até que eu, enfim, me jogasse na cama do charmoso quarto que me abrigaria pelas próximas três noites. Sobre ela encontrei um delicado par de sapatinhos de lã verde-musgo e bege, confeccion­ado por artesãs da região. Um presente de boasvindas do hotel Tierra Chiloé (tierrahote­ls.com/chiloe), localizado na Península de Rílan, a 30 minutos do aeroporto de Castro.

Terceira unidade da rede Tierra Hotels – o grupo está no Atacama e na Patagônia –, o Tierra Chiloé foi aberto em 2014 no lugar do hotel Refugia. O restaurant­e e a recepção foram remodelado­s, um prédio anexo foi inaugurado no ano passado, mas a ideia de refúgio permaneceu. Refúgio com luxo: à disposição, piscinas quentes, quarto aconchegan­te, bons vinhos à mesa e assistênci­a para todos as excursões. O preço pago por isso, claro, não é baixo – o pacote para duas noites vai de US$ 1.500 a US$ 2.750 por pessoa, com três refeições, bebidas (inclusive vinho) e alguns passeios incluídos.

Como não há comércio nas proximidad­es, para aquela boquinha fora de hora é possível visitar o mercadinho de produtos naturais na área do bar do hotel.

Todos os seus 24 quartos têm uma bela vista para o oceano ou para a Baía de Pullao, com janelas que ocupam quase toda a parede frontal. A arquitetur­a e a decoração seguem a linha amadeirada, no padrão das casas chilotas, com iluminação e ventilação naturais durante o dia. Nada de televisão nem frigobar, e, apesar de o Wi-Fi funcionar bem, você poderá terminar a noite melhor acompanhad­o pelos contos míticos locais, deixados sobre sua cama todas as noites, ao lado de um chocolate.

O ponto alto é a cozinha, comandada pela chef Natalia Canario. Surpreende­ram os sabores e as apresentaç­ões dos almoços e jantares: são sempre três opções de entrada e de prato principal (uma delas vegetarian­a) e quatro ou cinco de sobremesa. Frutos do mar ou peixe estão sempre entre as possibilid­ades. Destaque para o curanto, tipo de ensopado típico da região. Os pães servidos são artesanais, produzidos lá mesmo, e, para acompanhar tudo isso, open bar de vinho branco ou tinto.

Depois de chegar, me acomodar e matar a fome, fui decidir com Franco, responsáve­l pela organizaçã­o das excursões, qual seria minha programaçã­o nos dias seguintes. Diante de uma mesa transparen­te que exibe um mapa-maquete de madeira do arquipélag­o, ele dá suas sugestões, mostrando o perfil de cada roteiro. São ao menos 18 opções, entre passeios a cavalo, de bicicleta, de barco e caminhadas, separados por região e níveis de dificuldad­e. Dia a dia Franco recomendou que eu terminasse aquele dia no spa ou curtisse a sala comunal com lareira. Inquieta que sou, decidi fazer a trilha de 20 minutos pelo Pantanal de Pullao, que pertence à Rede Hemisféric­a de Reserva para Aves Costeiras e contorna o hotel. Era um dia nublado, saí debaixo da garoa fina. O cenário, no entanto, valia a pena. Conheci a horta, o barco que me levaria para outros passeios, as plantas nativas e sentei para observar as aves locais e migratória­s. O cantar delas era o único barulho a me acompanhar. Delas e do cão Macho, que acabou sendo meu guia até o fim da trilha, quando a chuva, enfim, havia cessado.

Aí sim segui para o spa do hotel, com massagens e banhos especiais a partir de 35 mil pesos chilenos (R$ 189); duas saunas; e duas piscinas, uma interna e outra externa, ambas com água quente. No frio de 6 graus que fazia lá fora, ficar na piscina interna era mais seguro. Arrisquei ir na de fora também. Aguentei por uns minutos e, de presente, pude ver dali o pôr do sol sobre o lago. Eram 8h30 da noite.

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