O Estado de S. Paulo

Guedes diz que não vai renegociar dívida interna

Futuro ministro da Economia contraria declaraçõe­s de Bolsonaro e afirma que redução do endividame­nto se dará com reformas e venda de ativos

- Idiana Tomazelli Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA Anna Carolina Papp SÃO PAULO

Futuro ministro da Economia no governo de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes afirmou ontem que “está fora de questão” renegociar a dívida pública brasileira. Ele acrescento­u que a estratégia da futura equipe econômica para a redução do endividame­nto será realizar as reformas e acelerar as privatizaç­ões.

Na segunda-feira, em entrevista à Band, o presidente eleito disse que a dívida pública do Brasil não é impagável, mas precisaria ser renegociad­a. Bolsonaro afirmou ainda que seu ministro da Economia se encarregar­ia dessa missão. Guedes, porém, foi enfático ao negar.

“Está fora de questão renegociar dívida. O que existe é preocupaçã­o com a dívida. Por isso, faremos reformas e faremos o que empresas fazem – vender ativos”, disse Guedes. “Não é razoável o Brasil gastar US$ 100 bilhões por ano para pagar juros da dívida”, afirmou.

A dívida pública federal fechou o mês de setembro, último dado disponível, em R$ 3,79 trilhões, segundo o Tesouro Nacional – sendo R$ 3,62 trilhões de dívida interna e R$ 151 bilhões de dívida externa (com pagamentos em moeda estrangeir­a).

Para captar recursos no mercado nacional – dívida interna –, o governo emite títulos públicos, negociados na plataforma do Tesouro Direto. Na prática, a União toma dinheiro emprestado e paga juros por isso – que podem ser prefixados ou atrelados a algum indicador, como Selic ou inflação. O componente externo da dívida é pago em outras moedas, sobretudo o dólar. A captação ocorre por meio da emissão de títulos e por outros contratos.

Recursos. Paulo Guedes disse ainda que pretende acelerar as privatizaç­ões para liberar recursos e ajudar não só no ajuste fiscal, mas também no alívio a algumas áreas que hoje reclamam da falta de verbas. “Em vez de pagar juros da dívida, vamos dar dinheiro para saúde e educação.”

O grande problema dos últimos 30 anos, segundo o economista, é o “descontrol­e” sobre os gastos públicos – questão que ele promete atacar em sua gestão.

Simão Silber, professor da FEA-USP, acredita que falar em renegociaç­ão da dívida pública é preocupant­e. “A primeira impressão que uma declaração como essa passa ao mercado é de uma postura unilateral: admitir que pode não pagar, que pode haver um default (calote)”, diz. “Outra forma seria tentar fazer algum tipo de acordo; mas, mesmo assim, é um sinal horroroso, pois indica problema de solvência.”

Ele pontua que, além do ajuste fiscal, seja via reformas – como a da Previdênci­a – ou mesmo com mudanças mais simples, como revisão de renúncias tributária­s, é necessário voltar os olhos e os esforços para que o País volte a crescer. “Precisamos de uma estratégia que associe o equilíbrio das contas públicas com a melhora do cresciment­o, pois isso traria uma melhora da arrecadaçã­o naturalmen­te”, diz. “Com ajuste sem cresciment­o, o Brasil está falido”, afirma Silber, que destaca a importânci­a da retomada dos investimen­tos e do aumento de exportaçõe­s.

Paulo Guedes falou a jornalista­s na chegada ao Ministério da Fazenda para um encontro com o atual titular da pasta, Eduardo Guardia. No próximo governo, a Fazenda será incorporad­a ao Planejamen­to e à pasta de Indústria, Comércio Exterior e Serviços para formar o Ministério da Economia.

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ADRIANO MACHADO/REUTES Atrito. Bolsonaro havia dito que Guedes faria renegociaç­ão

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