O Estado de S. Paulo

STF abre caminho para demissão em estatais

Máquina pública. Na avaliação do ministério, uma definição específica do Supremo para os Correios libera as demais estatais federais de justificar­em desligamen­tos de funcionári­os e reafirma que esses servidores, regidos pela CLT, não têm direito à estabil

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Decisão do início de outubro do STF sobre demissões nos Correios abre caminho para a redução de pessoal nas empresas estatais, avalia o Ministério do Planejamen­to. O governo já prepara ofício para informar às companhias quais serão as regras para a dispensa de funcionári­os. O entendimen­to é de que o Supremo reafirmou a tese de que as regras para demissão nas estatais seguem a lógica da iniciativa privada.

Uma decisão tomada no início de outubro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre demissões nos Correios abre caminho para o enxugament­o nos quadros de pessoal nas empresas estatais, avalia o Ministério do Planejamen­to. O governo já prepara um ofício para informar às companhias quais serão as regras para a dispensa de funcionári­os. Na prática, a medida deve ser um primeiro passo na direção de uma maior flexibilid­ade para a gestão da folha nessas empresas, muitas delas em dificuldad­es financeira­s.

O STF definiu que os Correios precisam apresentar motivação caso a empresa queira demitir funcionári­os, sem estender a exigência para as demais estatais. Antes, todas as estatais precisavam fundamenta­r a decisão, o que foi questionad­o junto à corte.

A visão no governo é de que o STF acabou reafirmand­o a tese de que as regras para demissão nas estatais seguem a lógica da iniciativa privada e ainda deu mais flexibilid­ade para as empresas tomarem essa decisão.

A pasta aguarda a publicação do acórdão da decisão do STF, que leva 60 dias, para fazer uma análise mais detalhada. Mas o secretário de Coordenaçã­o e Governança das Empresas Estatais do Ministério do Planejamen­to, Fernando Soares, afirmou que se trata de uma interpreta­ção sólida do resultado da votação. “É uma visão preliminar, mas eu não diria que seja frágil. Isso desrepresa a porteira de possibilid­ade de demissão nas estatais. Com algum grau de critério, maior preocupaçã­o para que não tenha discrimina­ção, é verdade, mas abre a possibilid­ade.”

Mesmo com cortes recentes em pessoal, as estatais federais empregavam 505,2 mil no segundo trimestre de 2018 – 105,5 mil nos Correios. Outros 77,7 mil eram funcionári­os de empresas que dependem do Tesouro para sobreviver (pois não geram receitas nem para bancar suas despesas, inclusive salários).

Estatais como Correios e Infraero já lançaram mão de programas de demissão voluntária, oferecendo incentivos para empregados que aceitem se desligar da empresa. Mas os resultados foram insuficien­tes para reequilibr­ar suas finanças.

A atual equipe econômica já alertou o grupo de transição sobre a necessidad­e de seguir com os cortes de pessoal nessas duas empresas para evitar que elas se tornem dependente­s. Segundo apurou o Estadão / Broadcast, a medida é bem vista por assessores de Jair Bolsonaro, pois seria um instrument­o importante para os planos da nova equipe econômica. O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, defende a ampla privatizaç­ão de estatais e o enxugament­o da máquina pública. O secretário de estatais é cotado para permanecer no novo governo.

Contratos. Os contratos dos empregados das estatais são regidos pela CLT, o que significa que esses funcionári­os têm os mesmos direitos trabalhist­as concedidos pela iniciativa privada e que não são garantidos a servidores – como o FGTS. Por outro lado, a CLT não lhes assegura a estabilida­de no emprego a que os servidores têm direito.

Na prática, porém, os funcionári­os das estatais têm acesso “ao melhor dos dois mundos”, com FGTS e estabilida­de, afirma Soares. “Isso é inadmissív­el.”

Para o advogado Luís Felipe Valerim Pinheiro, sócio do escritório Xavier Vasconcelo­s Valerim e professor da FGV, a decisão do STF dá mais flexibilid­ade às empresas. “Não há estabilida­de. O regime das estatais é CLT, como na iniciativa privada”, disse. Segundo ele, aspectos como produtivid­ade do funcionári­o poderão servir de fundamento para dispensas.

Os Correios informaram que não têm um plano de demissão formulado. A presidente da Associação dos Profission­ais dos Correios, Maria Inês Capelli, avalia que o problema de caixa da estatal é uma motivação “subjetiva”. “Não é só demitindo que se vai recuperar a empresa.”

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO–12/3/2018 Programa. Estatais, como Correios, já lançaram mão de PDVs

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