Ensino particular vive ebulição
Educação. Após abertura de duas grandes unidades com proposta inovadora em São Paulo, colégios apostam em período integral, currículo bilíngue e novas tecnologias; ideia é manter identidade, mas se adaptar às demandas dos pais e da nova geração de alunos
Colégios tradicionais de São Paulo adaptam currículos, aumentam a carga horária e investem em novas tecnologias para enfrentar a competição com novas escolas de elite. Alunos do Santa Maria, Leonardo e Vitor Miguel, filhos da empresária Luana Silva, devem começar a ter aulas em período integral em 2019.
O início neste ano das atividades de grandes escolas particulares em São Paulo, que prometem formar alunos para serem “cidadãos globais”, inspirou colégios tradicionais da cidade a pensar ou adiantar mudanças no currículo e na carga horária. Período integral, proposta bilíngue, investimento em novas tecnologias, aulas interdisciplinares e voltadas para o cotidiano dos alunos são algumas das novidades adotadas.
Desde o anúncio da abertura de duas novas escolas de elite, Avenues e Concept, com a proposta de oferecer um “projeto pedagógico inovador”, o mercado de colégios particulares está agitado, seja pela troca de alunos ou de professores. Apesar de serem acessíveis para poucas famílias – a mensalidade delas chega a R$ 9,8 mil, mais do que o dobro do cobrado nas escolas tradicionais –, alguns pais ficaram preocupados de não oferecerem um ensino inovador para os seus filhos.
“Com esse novo mercado, fizemos um exercício de olhar para dentro. Primeiro, precisamos diferenciar o que é novidade e o que é inovação. Depois, pensamos nos nossos atributos e no legado. Avaliamos que iríamos fazer uma metamorfose, mas sem perder nossa identidade”, diz Esther Carvalho, diretora geral do Colégio Rio Branco, que tem 72 anos e fica em Higienópolis, na região central.
A escola reformulou o currículo do ensino fundamental 2 (do 6.º ao 9.º ano) para que as aulas fossem divididas em módulos, não mais em disciplinas. Ou seja, os alunos passaram a desenvolver projetos em que trabalham todas as matérias de forma integrada. Também aumentou a carga horária de Inglês.
Ela conta que também percebeu a necessidade de melhor comunicação com os pais para que entendam e opinem sobre o projeto pedagógico. “Temos rigor pedagógico grande, mas
“Existe uma urgência em aproximar a escola das demandas cotidianas.” Esther Carvalho DIRETORA-GERAL DO COLÉGIO RIO BRANCO
às vezes não comunicamos bem o que é feito. Essas escolas falam em formar um cidadão global. Há mais de dez anos nossos alunos fazem projetos com jovens do outro lado do mundo, são aprovados para Harvard, MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos). Isso é o quê? Ser cidadão do mundo não é só ser bilíngue.”
Com mais de 70 anos e um dos mais tradicionais da cidade, o Colégio Santa Maria, na zona sul, também decidiu este ano atender a uma demanda de anos dos pais: período integral para o ensino infantil e fundamental 1 (do 1.º ao 5.º ano) e ampliação das aulas de Inglês para crianças menores. “Entendemos que elas precisam de um tempo em casa e com a família. Mas precisamos olhar também as novas demandas familiares, com mães e pais trabalhando, filhos únicos sem contato com vizinhos ou primos”, diz a orientadora Karine Ramos.
A empresária Luana Silva, de 33 anos, matriculou os filhos Leonardo e Vitor Miguel, de 4 e
6 anos, este ano no colégio, mesmo sem a oferta do período integral. “Eu me desdobrei o ano inteiro para cuidar deles pela manhã e trabalhar. Procurei escolas bilíngues e com período ampliado e, apesar de atenderem melhor meus anseios, não tinham os princípios de educação que procurávamos para as crianças”, conta a mãe, que ficou aliviada ao saber que em 2019 o Santa Maria vai oferecer mais atividades para os alunos.
Professores. A ampliação da carga horária e a oferta de período integral também tornam os colégios mais atrativos para os professores, que poderão dar mais aulas – e consequentemente
ter um salário melhor – em uma única unidade. Muitas escolas tradicionais perderam docentes este ano para os novos colégios, já que eles oferecem remunerações que podem chegar a até R$ 20 mil – 40% acima da média.
O centenário Colégio São Luís, na região central, anunciou este ano novo currículo internacional, ensino em tempo integral e uma sede maior, na região do Ibirapuera. A escola pretende também aumentar dos atuais 40% para 80% a proporção de docentes com dedicação exclusiva em 2020.
A diretora-geral, Sônia Magalhães, diz que está aumentando progressivamente as horas
semanais de formação remunerada, para motivar e qualificar os profissionais para o novo projeto. A formação é focada em inovação e novas metodologias de ensino. “Sempre fomos bem posicionados do ponto de vista de remuneração, mas, além de bons salários, os professores também querem um propósito, pertencer ao projeto.”