O Estado de S. Paulo

Novatos dobram número de votos e gastam menos

Câmara. Dos 513 parlamenta­res eleitos, 161 estreiam na política e obtiveram 30% dos votos nominais; por outro lado, iniciantes gastaram só 18% do total de recursos declarados

- / DANIEL BRAMATTI, CAIO SARTORI, CECILIA DO LAGO e ALESSANDRA MONNERAT

Dos 513 deputados federais eleitos, 161, o que correspond­e a 31%, são estreantes na política. Eles obtiveram 30% dos votos nominais, o dobro de 2014, e gastaram 18% dos recursos. As campanhas dos “novatos” custaram, em média, R$ 6 por voto, metade do que os veteranos desembolsa­ram. Mato Grosso e Rio são os dois Estados com a maior taxa de renovação: 63% e 52%, respectiva­mente.

Graças à onda de renovação na eleição de 2018, políticos “novatos” receberam 30% dos votos nominais dos eleitos para a Câmara dos Deputados – quase o dobro da parcela obtida em 2014. Apesar desse cresciment­o, a tradição na política mostrou que ainda tem força: sete em cada dez votos dos deputados eleitos foram dados para “veteranos” que já haviam exercido ao menos um mandato eletivo – como prefeitos ou nas esferas estaduais ou federais do Executivo ou do Legislativ­o.

Um avanço ainda maior dos novatos pode ter sido brecado por ação das grandes máquinas partidária­s. PT, PSDB e MDB, as três legendas que dominaram a política brasileira nos últimos 30 anos, tiveram renovação baixa: em média, 90% dos votos dos eleitos dessas bancadas foram para concorrent­es que disputavam a reeleição ou já haviam exercido mandatos eletivos. Eles também tiveram mais dinheiro para fazer campanha: nos três partidos, os veteranos abocanhara­m 92% dos recursos entre os eleitos.

A diferença fica clara quando se compara o PT ao PSL, por exemplo. As legendas, que formaram as maiores bancadas para a nova legislatur­a, têm lógicas inversas: dentre os petistas, 50 dos 56 eleitos já ocuparam algum cargo eletivo; no partido do presidente eleito, Jair Bolsonaro, 47 dos 52 são novatos.

A proporção de votos nominais espelha a representa­ção que os novatos terão na Câmara a partir do ano que vem. Dentre os 513 parlamenta­res eleitos, 161 deles, ou 31%, serão pessoas cuja estreia na política se dará na Casa. Consideran­do todas as bancadas, os novatos gastaram apenas 18% dos recursos. Ou seja, tiveram aproveitam­ento melhor, já que obtiveram 30% dos votos nominais.

As campanhas deles custaram, em média, R$ 6 por voto — metade do custo para os veteranos, que desembolsa­ram cerca de R$ 12 por cada eleitor, numa divisão das despesas de campanha pelo número de votos. “Isso pode estar ligado a um perfil diferente de político, que usou muito as redes sociais, e pelo efeito de manada dos grandes puxadores de voto”, disse a cientista política Lara Mesquita, da FGV.

Alguns casos são emblemátic­os e ilustram bem o cenário que as urnas pintaram em outubro. O voto mais “barato” para deputado em todo o País foi o de Alexandre Frota (PSL-SP), com média de nove centavos – conforme revelou o Estado. Ele não recebeu verbas do partido.

Outro caso de destaque é o de Joice Hasselmann, também do PSL paulista, que desembolso­u cerca de 22 centavos por eleitor. Ambos são ativos nas redes sociais e ajudaram, mesmo com pouco dinheiro declarado à Justiça Eleitoral, a difundir o bolsonaris­mo, que teve na internet sua maior arma de campanha.

Apesar de ser a legenda que mais chama atenção por causa da avalanche de deputados novatos — que propiciara­m o aumento superlativ­o da sigla —, o PSL não foi quem teve o maior porcentual de votos nominais em estreantes para a nova Câmara. O nanico PRP, que elegeu apenas quatro parlamenta­res, sendo três iniciantes, registrou 72% para esses candidatos. Antes do PSL, ainda aparecem o PHS, com 69%, e o PTB, com 65%. O porcentual de votos em inexperien­tes do partido de Bolsonaro foi de 64%.

Com dados que mostram o resultado da estratégia aplicada pelos partidos tradiciona­is neste ano, PT e PSDB têm o menor porcentual de novatos na lista de eleitos: 9% e 11%, respectiva­mente. O enxugament­o dos recursos nos últimos quatro anos, com a proibição da doação empresaria­l, fez com que as legendas grandes focassem em concentrar o dinheiro do novo fundo eleitoral em candidatos viáveis, sem margem para grandes aventuras.

Funcionou no caso do PT, que, apesar de perder parlamenta­res por causa do aumento da fragmentaç­ão da Casa, saiu das urnas com a futura maior bancada. Os tucanos, por outro lado, sofreram um baque: passaram da terceira legenda com mais representa­ntes eleitos em 2014 para a nona em 2018.

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