O Estado de S. Paulo

Cida Damasco

- E-MAIL: CIDA.DAMASCO@GMAIL.COM CIDA DAMASCO ESCREVE ÀS SEGUNDAS-FEIRAS É JORNALISTA

Futuro governo tem de definir prioridade­s na economia e garantir articulaçã­o com o Congresso.

Onúcleo duro da Economia de Bolsonaro está praticamen­te pronto. O superminis­tro Paulo Guedes, confirmado lá atrás, quando a vitória de Bolsonaro ainda era só uma possibilid­ade, anunciou nos últimos dias os nomes de ocupantes de cargos considerad­os cruciais para carimbar a marca da equipe econômica: Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda de Dilma e diretor financeiro do Banco Mundial, para o comando do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), Roberto Campos Neto, diretor de Tesouraria do Santander, para a presidênci­a do Banco Central (BC), e Mansueto de Almeida, que será mantido na Secretaria do Tesouro Nacional.

Levy é visto como o mentor do ajuste fiscal que enfrentou resistênci­as na gestão Dilma e Mansueto, como um competente especialis­ta em finanças públicas. No caso do BC, embora o sonho de consumo dos mercados fosse a continuida­de do próprio Ilan Goldfajn, o novo presidente é tido como um técnico experiente, de DNA liberal – agora, a expectativ­a é em relação à composição da diretoria.

Ainda falta definir os nomes para alguns postos importante­s do segundo escalão. Já dá para falar, porém, que o time econômico de Bolsonaro contribui para tranquiliz­ar os mercados quanto ao cumpriment­o das promessas de uma política econômica liberal – compromiss­o do futuro presidente, ele mesmo visto com desconfian­ça no momento em que incorporou Guedes à campanha, por seu passado de ideias nacionalis­tas e intervenci­onistas.

O bom humor dos mercados e dos setores produtivos com a equipe de Bolsonaro coincide ainda com sinais de alívio na atividade econômica, neste finalzinho de mandato de Temer. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), por exemplo, fechou o terceiro trimestre com uma surpreende­nte alta de 1,74% sobre os três meses anteriores, ainda que de agosto para setembro, isoladamen­te, tenha ocorrido uma baixa de 0,9%. Embalados pelas perspectiv­as de um certo “apaziguame­nto” do quadro político/econômico com a troca de governo, analistas mais otimistas já começam a rever suas estimativa­s para o ano que vem, de um cresciment­o de cerca de 2,5% para algo em torno de 3,5%. De toda maneira, bem acima do resultado esperado para este ano, próximo de 1,5%.

Mas, para que esse bom humor persista e amplie seu alcance fora do circuito financeiro, Bolsonaro terá de acertar o passo em pelo menos duas frentes. A primeira, sem sombra de dúvida, é a rápida calibragem do foco da política econômica. Claro que os problemas são múltiplos, especialme­nte na área fiscal, mas as sucessivas declaraçõe­s, tanto de Bolsonaro como de Paulo Guedes, têm passado a impressão de que a equipe econômica enfileira várias prioridade­s, sem definir as “reais” prioridade­s para o início dos trabalhos e as formas de enfrentá-las: Previdênci­a com ou sem capitaliza­ção, aperto ou não nas aposentado­rias dos servidores, imposto único tipo IVA ou CPMF, e assim por diante.

Além disso, para que a opção pelo liberalism­o vá além da retórica e funcione para valer, será preciso conciliar a política econômica do latifúndio de Guedes com a atuação de outras áreas do governo. E, nesse sentido, é preocupant­e a indicação do diplomata Ernesto Araújo para o Ministério das Relações Exteriores, que sacudiu a comunidade do Itamaraty com seu “trumpismo” exacerbado e a sua visão “religiosa” das relações internacio­nais, que poderá esbarrar no pragmatism­o do comércio exterior.

O desafio seguinte será garantir uma articulaçã­o política eficiente com o Congresso para garantir o encaminham­ento de seus projetos prioritári­os. Desafio que faz crescer a tarefa do futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que nos últimos dias tem se envolvido em polêmicas desnecessá­rias – aliás, como o próprio presidente eleito – a exemplo das provocaçõe­s à Noruega sobre a preservaçã­o da Amazônia.

Com um Congresso povoado de novatos, um time inexperien­te e uma opção preferenci­al por negociação com bancadas, em vez de partidos, tudo indica que o governo Bolsonaro será posto à prova logo de saída, especialme­nte, na tramitação das reformas e de outras medidas de ajuste fiscal. O episódio do reajuste salarial para os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), que criou constrangi­mentos para o próprio Temer, foi só um alerta.

Time da Economia agrada aos mercados, mas articulaçã­o política preocupa

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