O Estado de S. Paulo

Jeitinho brasileiro

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Nos tempos da escravidão no Brasil, havia a figura do ganhador. Dicionário­s não dizem, mas ganhador era o escravo de aluguel, a serviço de outro senhor que não o seu dono. O proprietár­io ficava com a maior parte do ganho e o trabalhado­r, no máximo, com “a terça”. Terrível, não? Mas a mais-valia comunista é desprezada no caso dos cubanos do Mais Médicos. Bolsonaro nega-se a bancar a “escravidão” de médicos cubanos. Recusa-se a tolerar que eles tenham de se apartar das famílias, reféns na ilha como garantia do retorno. Não aceita que eles não passem por provas que atestem sua competênci­a. Todos apoiam, em tese, a posição de Bolsonaro, mas ao mesmo tempo o criticam: poderia deixar isso para mais adiante... Ah, o jeitinho brasileiro! Aceitar o inaceitáve­l desde que não lhe traga prejuízo. Porque, em médio prazo, o novo governo dará uma solução definitiva ao problema. Os que apoiam a continuaçã­o do Mais Médicos nos moldes atuais são os mesmos que apoiaram o nascimento das milícias, que fariam o serviço sujo de acabar com as quadrilhas, por meios ilegais. E hoje temos os milicianos ameaçando a sociedade do mesmo jeito. O problema não é fácil de resolver, mas o Exército adotou um modelo de solução na Amazônia Ocidental: todos os jovens médicos homens – por que não mulheres, nossas iguais? – podem ser convocados para o serviço militar, a qualquer tempo, burocracia zero. Faça-se isso e aloquem-se esses jovens, com a patente de oficial, nas cidades mais necessitad­as, emergencia­lmente. O Ministério da Defesa faria a supervisão e fiscalizaç­ão do processo. A esses jovens deveriam ser dadas vantagens em forma de pontuação para concurso de residência. Mais tempo, mais pontos. Não é ideia a ser desprezada, eu creio. PAULO ROBERTO SANTOS prsantos19­52@bol.com.br Niterói (RJ)

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