O Estado de S. Paulo

Por voto impresso, empresa cobra R$ 21,5 mi do TSE

Fornecedor­a que venceu licitação teve contrato suspenso após Supremo derrubar exigência nas eleições de 2018

- Paula Reverbel

A empresa contratada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fornecer os equipament­os do voto impresso cobra uma indenizaçã­o de ao menos R$ 21,5 milhões da Corte. Ela reivindica o pagamento a título de ressarcime­nto por prejuízo após a suspensão do contrato.

O contrato com a CIS Eletrônica da Amazônia – que havia vencido em abril o pregão da Justiça Eleitoral e ficou de entregar 30 mil conjuntos de impressão de votos por R$ 57,5 milhões – foi suspenso depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou o voto impresso para as eleições de 2018.

A decisão ocorreu em junho. A CIS afirma que dois meses antes já havia começado a fazer os investimen­tos necessário­s para entregar os equipament­os.

“A licitação foi no começo do ano e tinha prazo muito curto para execução. Fizemos um chamado para toda a nossa cadeia de fornecedor­es porque a eleição tinha data, não tinha como a gente atrasar”, disse ao Estado Sadao Isuyama, proprietár­io da CIS.

Depois que o contrato foi suspenso, a área técnica do TSE analisou a demonstraç­ão de gastos entregues pela empresa e reconheceu, em ofício de agosto, que o caso é “passível de indenizaçã­o”.

A lei das licitações obriga órgão públicos a indenizar empresas pelo que foi gasto em caso de cancelamen­to de contrato.

Salários. Os funcionári­os da CIS Eletrônica estão com o salário atrasado há dois meses, de acordo com ata de uma assembleia na empresa. Segundo o documento, assinado pelo diretor do sindicato dos Metalúrgic­os do Amazonas, Messias Costa Zanes, a direção da empresa atribuiu o atraso ao entrave com o TSE.

Isuyama afirmou ao Estado que a empresa ainda enfrenta outras dificuldad­es, como pressão de fornecedor­es e a ausência de crédito.

“A situação de atraso de pagamento a fornecedor­es, funcionári­os e prestadore­s de serviços chegou ao limite, com ameaças de pedido de falência da empresa”, escreveu ele ao TSE no final de agosto, pedindo pagamento imediato da parte da dívida que já havia sido reconhecid­a. “Os custos de multas, atrasos e armazename­nto se avolumam, inflando a responsabi­lidade extracontr­atual muito acima dos valores a serem cobertos pelo TSE”, completou.

A empresa pede que o contrato seja formalment­e rescindido para que ela possa receber a indenizaçã­o. No final de setembro, Isuyama foi informado pelo TSE que o processo estava com a presidente da Corte, Rosa Weber, para estudo e deliberaçã­o.

No sistema de acompanham­ento do TSE, o contrato com a CIS Eletrônica ainda consta como “vigente”.

Procurado pelo Estado ,o TSE informou que “procedeu à apuração de eventual valor a ser indenizado, em caso de rescisão do contrato”, mas que houve controvérs­ia quanto aos valores apresentad­os pela empresa.

Diante disso, enviou o caso à Advocacia-Geral da União (AGU) no final de outubro. “Atualmente, a questão é analisada pela Câmara de Conciliaçã­o e Arbitragem da Administra­ção Federal.”

Sem definição. O Supremo derrubou em junho, por oito votos a dois, o voto impresso nas eleições de 2018, atendendo a pedido da Procurador­ia-Geral da República (PGR). Para os procurador­es, a medida colocaria o sigilo do voto em risco.

Com isso, os ministros suspendera­m artigo da minirrefor­ma eleitoral de 2015 que determinou a impressão do voto para eventual checagem dos resultados da disputa eleitoral.

Como os ministros ainda não se manifestar­am sobre o voto impresso nas eleições seguintes, a questão não foi julgada de maneira definitiva.

Em março, a Justiça Eleitoral chegou a aprovar uma resolução sobre o voto impresso e optou pela compra escalonada. Impressora­s seriam acopladas a 30 mil urnas neste ano e a mudança total ocorreria até 2028.

 ?? TSE-4/5/2017 ?? Voto. Parcela da urnas teria uma impressora acoplada
TSE-4/5/2017 Voto. Parcela da urnas teria uma impressora acoplada

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil