O Estado de S. Paulo

‘Operador’ de Cabral é solto e vai cumprir prisão domiciliar

Carlos Miranda, que delatou esquema de corrupção no governo do Rio, foi libertado ontem após 2 anos de detenção

- Roberta Pennafort / RIO

Preso há dois anos, Carlos Miranda, operador financeiro confesso do esquema de corrupção atribuído ao ex-governador Sergio Cabral (MDB), foi libertado ontem para cumprir prisão domiciliar. Anteontem, Cabral completou também dois anos de prisão – o ex-governador já foi condenado a mais de um século de prisão por crimes como corrupção, organizaçã­o criminosa, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

A expectativ­a da defesa era de que Miranda saísse da Cadeia

Pública José Frederico Marques, em Benfica, na última sexta-feira. Mas houve problemas burocrátic­os e a liberação atrasou.

Apelidado de “o homem da mala de Cabral”, função que teria desempenha­do no primeiro mandato do ex-governador (2007-2010), Miranda conseguiu redução de pena por colaborar com a Justiça. Suas revelações, considerad­as essenciais para se desvelar toda a estrutura criminosa, são refutadas pela defesa do ex-governador.

Responsáve­l pela contabilid­ade de repasses escusos, conforme sua delação, Miranda relatou com detalhes como funcionava a cobrança, o recolhimen­to e a distribuiç­ão da propina; revelou, por exemplo, como se deram os permanente­s pagamentos feitos por empreiteir­as que realizaram obras de vulto no Estado, os “mensalinho­s” a deputados estaduais da base de apoio a Cabral e a compra de votos para que a cidade do Rio fosse escolhida sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Ele assinou acordo de colaboraçã­o premiada ano passado. Amigo de juventude de Cabral, Miranda foi casado com uma prima dele. Usava mochilas para recolher propinas nas sedes das empresas, pagava contas, comprava joias em joalherias de luxo e chegou a preparar declaraçõe­s de Imposto de Renda de Cabral e parentes, ainda de acordo com as investigaç­ões. Uma empresa aberta por ele era usada para lavagem do dinheiro.

Cabral foi governador entre 2007 e 2014, período em que foi movimentad­o cerca de R$ 1 bilhão em propinas oriundas de contratos do Estado em áreas como transporte­s, obras e saúde, conforme a Procurador­ia da República. Ele admite que ficou com caixa 2 de campanha para si, mas nega ser corrupto.

‘Plano diabólico’. O advogado Rodrigo Roca, que defende Sergio Cabral (MDB), classifico­u a decisão pela prisão domiciliar de Carlos Miranda de “consagraçã­o de um plano diabólico que perverte o ideal da Lei da Delação Premiada, o sistema processual penal brasileiro e tudo o que a Justiça representa”. Roca afirmou que esta data “será lembrada pela infâmia”.

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MPF-27/12/2017 Colaboraçã­o. Miranda fechou delação premiada em 2017

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