O Estado de S. Paulo

A nova geração de comédias românticas

Filmes como ‘Para Todos os Garotos Que Já Amei’ se tornam fenômenos na web ao atualizar a fórmula clássica

- Matheus Mans ESPECIAL PARA O ESTADO

A fórmula é a mesma em todos eles. Ambiente escolar americano, valentões assustando os mais fracos, líderes de torcida vingativas e, no centro de tudo, uma pessoa fora dos padrões tentando se encaixar e, talvez, engatar uma paixão. Os filmes adolescent­es, que já tiveram seu grande momento com os adorados Meninas Malvadas, Sexta-Feira Muito Louca e As Patricinha­s de Beverly Hills, voltam numa versão mais atual pelas mãos da Netflix, gigante do setor de streaming que tem produzido longas juvenis que estão se tornando fenômenos na web.

A caminhada em direção ao pote de ouro começou com A Barraca do Beijo, filme adaptado de um livro publicado na plataforma Wattpad por Beth Reekles, garota de 16 anos. Com Joey King como a protagonis­ta, o longa mostra o relacionam­ento entre a garota e o irmão mais velho de seu melhor amigo. História simples, sem firulas ou efeitos especiais, e que tem conquistad­o um grande séquito de fãs. Apenas no canal oficial da Netflix no YouTube, por exemplo, o trailer do longa-metragem conta com 15,5 milhões de visualizaç­ões – o da série Riverdale, outro sucesso do público adolescent­e, foi assistido “apenas” 300 mil vezes.

Depois disso, a plataforma de streaming conseguiu emplacar, só em 2018, outros sucessos do subgênero, como Sierra Burgess é uma Loser e Para Todos os Garotos que Já Amei. São produções parecidas, mas que conseguem trazer algumas emoções à tona para o público que tenta conquistar, como o sentimento de nostalgia com esse tipo de história e, é claro, uma forte sensação de identifica­ção com as protagonis­tas, que deixam de ser atrizes com o “padrão” de Hollywood para assumir um tom mais natural e próximo da realidade da escola.

Vale destacar, também, que o público adolescent­e, nos últimos anos, viu uma enxurrada de distopias e tramas de superação atingirem o gênero, diminuindo as produções mais leves e ingênuas com o padrão Sessão da Tarde. “A Netflix está sempre atrás de gêneros de filmes e de séries de TV que tenham uma grande audiência mas que, por algum motivo, estejam com a demanda suprimida”, disse o responsáve­l por conteúdos originais da empresa, Ian Bricke, ao Estado. “Há um ano, quando demos sinal positivo para esse tipo de filme, nós acreditáva­mos que as pessoas ainda queriam histórias de romance, mas Hollywood não estava antenada com esse desejo. É emocionant­e encontrar o público assim apaixonado.”

Os principais filmes lançados pela Netflix no gênero também caminham na direção de uma maior representa­tividade de seus personagen­s. Ainda que continue com os estereótip­os do valentão, do nerd e da patricinha, por exemplo, as protagonis­tas contam com camadas que a humanizam mais do que a Cady, de Meninas Malvadas, ou Mia, de O Diário da Princesa. Lara Jean, de Para Todos os Garotos Que Já Amei é uma adolescent­e normal que não passa por transforma­ções radicais de visual e nem ao menos serve como forma de redenção de algum menino pelo qual está apaixonada. É uma menina como qualquer outra no mundo.

Há, também, preocupaçã­o com saúde mental, um maior respeito à diversidad­e sexual, um forte empoderame­nto feminino dentre as protagonis­tas e uma clara aceitação do seu corpo.

“São romances colegiais contemporâ­neos, mas que falam com públicos diferentes, de todas as partes do mundo. Há referência­s ao clássico Clube dos Cinco, de John Hughes, que criam um vínculo com audiências mais velhas”, explica Bricke. “No entanto, deve-se perceber como esses filmes continuam a falar de romances de verão, mas de um jeito bem diferente de antes. Há histórias sobre jovens mulheres buscando independên­cia, amizade de meninos e meninas. Parece uma comédia romântica clássica, mas mais sintonizad­a com o momento atual.”

Futuro. Com esse sucesso em mãos, a Netflix já começa a espiar o futuro e a preparar o terreno para que os filmes adolescent­es continuem a render bons frutos. Uma das coisas a se fazer é administra­r as marcas criadas, permitindo que as histórias continuem a causar influência na vida dos fãs – como Meninas Malvadas que, mesmo 14 anos depois do seu lançamento, continua fazendo com que pessoas se vistam de rosa às quartas. “Nós vemos os atores dessas produções realmente empolgados, com vontade de continuar a falar sobre o filme”, contextual­iza Ian. “Isso já nos deixa animado com a continuida­de das histórias.”

Novos filmes no gênero e continuaçõ­es também estão previstas – A Barraca do Beijo deve ganhar sequência após extensa campanha de fãs. A sequência de Para Todos os Garotos que Já Amei, filme que foi assistido cerca de 80 milhões de vezes de acordo com o relatório trimestral da Netflix e se tornou a comédia romântica de maior sucesso do serviço, também já está ganhando contornos concretos. “As pessoas se apaixonam pelos personagen­s, pela história contada, pelo ambiente criado”, diz Ian ao Estado. “É natural que continuemo­s a contar essas histórias sem atrapalhar o filme original. Não queremos estragar a paixão dos fãs.”

“As pessoas se apaixonam pelos personagen­s, pela história contada, pelo ambiente criado. É natural que continuemo­s a contar essas histórias sem atrapalhar o filme original” Ian Bricke

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NETFLIX ‘Sierra Burgess é Uma Loser’. Filme tem polêmica com personagem que faz ‘catfish’, se passar por outra pessoa na web

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