Spike Lee acerta contas com Hollywood
‘Infiltrado na Klan’ busca novo viés para prosseguir luta antirracista
Numa longa entrevista à revista Film Comment, Spike Lee explicou que se devia, como cineasta e cidadão, o longa Infiltrado na Klan, que estreia nesta quinta, 22, depois de haver sido premiado em Cannes, em maio, e passar pela Mostra e pelo Festival do Rio. Infiltrado na Klan pega carona na estética dos ‘blaxploitation movies’ dos anos 1970 para contar a história (real) de Ron Stallworth, jovem negro do Colorado cujo sonho era ser policial.
Interpretado por John David Washington, ele se habilita a uma vaga e enfrenta o racismo nada velado de muitos de seus companheiros brancos. Num gesto ousado, consegue se infiltrar na organização racista Ku Klux Klan, chamando, pelo telefone, a atenção do principal dirigente da organização. Só que, para aparecer, Ron precisa da cumplicidade de um colega branco que será seu alter ego. É o judeu Flip Zimmermann, interpretado por Adam Driver.
Spike Lee tem sido guerreiro na discussão da representatividade negra na produção de Hollywood. O caso de Infiltrado na Klan não deixa de ser especial, porque o filme foi produzido por Jordan Peele, o cineasta, também negro, ‘oscarizado’ de Corra! O filme atravessa a história norte-americana cheio de referências a Panteras Negras e aos filmes com elenco e diretores ‘black’ que marcaram os 1970 (e fizeram a cabeça de diretores brancos como Quentin Tarantino).
A frase que abre esse texto exige explicação. Spike Lee explica que Hollywood e seus mestres ‘brancos’ não apenas distorceram a história como fizeram com que negros, indígenas, etc, crescessem sentindo-se de segunda classe. “F... John Ford, f... John Wayne. Eles até tentaram se redimir fazendo filmes antirracistas como Rastros de Ódio, mas o mal estava feito. Infiltrado na Klan é sobre nossa luta (de negros) por igualdade e respeito. Ninguém dá isso a você. É preciso lutar. E, por isso, a luta continua.”