O Estado de S. Paulo

Temer decreta intervençã­o federal em Roraima

Medida vale até final do mês e foi tomada após anúncio de greve de PMs e agentes penitenciá­rios; atual governador­a deixa posto

- Tânia Monteiro Adriana Fernandes / BRASÍLIA / COLABOROU AMANDA PUPO

O presidente Michel Temer decretou intervençã­o em Roraima até o próximo dia 31. O motivo é a paralisaçã­o de agentes penitenciá­rios e da PM. Com a decisão, será criado um crédito extraordin­ário entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões para o Estado. O dinheiro será usado para o pagamento de servidores públicos e de outras despesas. O governo federal vai editar medida provisória para liberar o recurso. O intervento­r será o futuro governador, Antonio Denarium (PSL). Sem salário há três meses, os servidores públicos estaduais paralisara­m todas as atividades.

O governo federal decretou intervençã­o integral no Estado de Roraima até o dia 31 deste mês por causa da paralisaçã­o de agentes penitenciá­rios e da Polícia Militar, além da crise provocada pela imigração de venezuelan­os. Com a decisão, haverá um crédito extraordin­ário para o Estado entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões, que será usado para pagamento de servidores e outras despesas – o recurso fica fora da regra do teto de gastos da União. O governo federal vai editar uma medida provisória para liberar o dinheiro – a primeira parcela deve ser de R$ 23 milhões.

O intervento­r será o futuro governador, Antonio Denarium (PSL), do mesmo partido do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Na prática, ele estará antecipand­o a sua posse.

A intervençã­o em Roraima é mais ampla do que a realizada no Rio de Janeiro, Estado em que a União assumiu o comando da segurança pública e que também tem duração até o dia 31 deste mês. No Rio, a medida começou em 16 de fevereiro deste ano. Neste período, o Congresso fica impedido de votar Propostas de Emenda à Constituiç­ão (PEC).

Bolsonaro foi informado da decisão do governo federal antes de a medida ser tomada. Denarium vai substituir a atual governador­a, Suely Campos (PP). Ela foi avisada pelo presidente Michel Temer que a intervençã­o seria inevitável. “Falei com a governador­a e disse que a única hipótese para solucionar esta questão, especialme­nte aquela de natureza salarial, seria decretar a intervençã­o”, afirmou o presidente.

Temer decidiu pela intervençã­o durante reunião de emergência realizada no Palácio da Alvorada, na noite de ontem, com a participaç­ão dos ministros Sérgio Etchegoyen, do Gabinete da Segurança Institucio­nal (GSI), Raul Jungmann (Segurança Pública), Esteves Colnago (Planejamen­to), Gustavo Rocha (Direitos Humanos) e Grace Mendonça (AdvocaciaG­eral da União), além do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDBCE), estava fora de Brasília.

“Fiz com a governador­a uma espécie de intervençã­o negociada. Ela concordou com a fórmula encontrada. Ela acha que, de fato, a situação está se complicand­o no Estado e que a melhor solução seria precisamen­te essa”, declarou o presidente após a reunião. “Com isso, queremos pacificar as questões de Roraima”, disse. E completou: “Espero que, com isso, o movimento se amaine, fique mais compreensi­vo porque, afinal, as forças militares, agentes penitenciá­rios e todos aqueles que se dedicam à tarefa pública têm de pensar na população de Roraima”.

Temer convocou para hoje reunião do Conselho da República e de Defesa Nacional para referendar a intervençã­o. Esta é uma exigência legal da Constituiç­ão.

Justiça. Em audiência de conciliaçã­o no Supremo Tribunal Federal (STF), o governo de Roraima chegou ontem a apresentar uma nova proposta de acordo para fechar com a União, em que pedia, entre outros pontos, R$ 168 milhões de ressarcime­nto pelos gastos com a crise migratória dos venezuelan­os. A Advocacia-Geral da União (AGU) tem um prazo de 30 dias úteis para avaliar a proposta.

O governo federal e o Estado estão em disputa judicial desde abril, quando Roraima pediu ao STF que a fronteira com a Venezuela fosse fechada. Atualmente, após iniciativa­s da União e repasse de cerca de R$ 380 milhões, o pedido está descartado. O foco agora é o reembolso financeiro. O Estado atravessa uma grave situação fiscal, com atraso de salários de servidores.

Os problemas entre o governo federal e o de Roraima se arrastam há anos. Há uma falta de entendimen­to entre os Poderes no Estado e dificuldad­es de negociação com o governo federal, que está patrocinan­do o acolhiment­o de venezuelan­os que têm imigrado diante da crise no país vizinho.

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NILZETE FRANCO / ESTADÃO Caos no Estado. Agentes penitenciá­rios protestam em Boa Vista contra atraso de salários: quartéis dos Bombeiros e batalhões da PM foram fechados
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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Decisão. Temer diz ter feito uma ‘intervençã­o negociada’ com a governador­a Suely Campos

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