Tentativa de assalto a bancos deixa 14 mortos no interior do Ceará
Segurança. Oito bandidos morreram após trocar tiros com PMs durante ataques a duas agências da cidade de 28 mil habitantes; demais vítimas – cinco da mesma família – foram sequestradas pela quadrilha em rodovia próxima. Dois criminosos foram presos
Pelo menos 14 pessoas morreram em uma tentativa de assalto a dois bancos, na madrugada de ontem, na cidade de Milagres (CE), de 28 mil habitantes, a 485 quilômetros de Fortaleza. Seis das vítimas eram reféns, sendo que cinco pessoas viajavam numa estrada da região quando foram abordadas. Elas teriam sido mortas pelos bandidos. Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado, oito integrantes da quadrilha morreram em confronto com policiais.
Pelo menos 14 pessoas foram mortas em uma tentativa de assalto a dois bancos, na madrugada de ontem, na cidade de Milagres, região do Cariri, no Ceará. Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado, após confronto com policiais, oito membros da quadrilha morreram. As outras vítimas eram reféns – cinco da mesma família – e informações preliminares indicam que houve execução por parte dos bandidos.
Milagres, a 487 quilômetros de Fortaleza, tem cerca de 28 mil habitantes. A tentativa de roubo às agências do Banco do Brasil e do Bradesco foi por volta das 2h30. A quadrilha estava com os reféns quando a PM chegou e, dizem testemunhas, houve intenso tiroteio.
Cinco criminosos morreram no local e dois após serem atendidos em postos de saúde da região. Outro bandido foi morto por PM em Barro, a cerca de 100 quilômetros de Milagres. Três bandidos foram detidos depois – um deles chegou a se esconder na casa de uma moradora – e nenhum dinheiro foi levado.
Primeiramente, os bandidos assaltaram um caminhão na rodovia BR-116, entre Milagres e Brejo Santo. Após dominarem os seis reféns na estrada, os obrigaram a entrar com eles na cidade. O grupo usou um caminhão para bloquear o acesso de veículos na via. A polícia, que tinha informação de que a quadrilha planejava roubo em Milagres ou em Missão Velha, na mesma região, encontrou o grupo perto das agências bancárias.
A família sequestrada era do empresário João Batista Magalhães, de 46 anos, que voltava com o filho Vinícius, de 14, do Aeroporto de Juazeiro do Norte (CE), onde haviam buscado parentes vindos de São Paulo para passar o Natal.
Além deles, morreram a cunhada Claudineide Souza, de 42 anos; o marido dela, Cícero Santos, de 60; e o filho do casal, Gustavo, de 13. “Uma tragédia. Toda a família e a cidade estão aos prantos”, diz Tadeu Gama, cunhado do empresário, que era de Serra Talhada (PE). O velório será hoje. A sexta refém era Francisca Cruz, de 49 anos.
A investigação que levou à quadrilha envolveu as inteligências das polícias de Sergipe, Alagoas, Bahia e Ceará. Segundo o secretário da Segurança cearense, André Costa, a quadrilha tem atuação interestadual, com foco no Nordeste. O governador Camilo Santana (PT) considerou “estranha” a presença de reféns no local e disse que é necessária uma investigação. Destacou, porém, que “o trabalho dos policiais foi cumprido”.
Em Milagres, a prefeitura fechou órgãos públicos e recomendou aos moradores não sair de casa “até que a ordem seja restabelecida”. No comércio, muitos também fecharam as portas. “O carro parou na frente do banco, mas a polícia vinha atrás. Quando percebemos, fomos nos esconder, com medo das balas” conta Niedja Alves, de 32 anos, dona da funerária em frente à agência. Ela, a irmã e a mãe, que vivem sobre a loja, não abriram o estabelecimento ontem. “Foram 20 minutos de disparos. Nunca aconteceu nada disso aqui. Só via na TV”, diz um empresário da cidade, que pediu anonimato.
Uma pistola 9 mm, um revólver calibre 38, uma arma calibre
12 e explosivos, além de seis veículos, foram apreendidos.
Alta. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, chamou o caso de “tragédia”. Balanço do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta aumento nos roubos a instituições financeiras no País (como bancos e caixas-fortes): foram de 627 casos em 2007 para 1.478 em 2016.
“Ocorre no interior de vários Estados há ao menos uma década. São quadrilhas especializadas. A técnica não é diferente da usada no Sudeste. As quadrilhas transitam entre Estados”, afirma Luís Flávio Sapori, especialista em segurança da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-MG). O crescimento econômico na década passada e o menor efetivo policial, diz, atraem os crimes para a região.
Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informa que o setor investe R$ 9 bilhões anuais em segurança, o triplo em relação à década passada.