O Estado de S. Paulo

Itamaraty muda de posição e vota a favor de Israel na ONU

Governo brasileiro apoia resolução proposta pelos EUA que condenava ataques do Hamas; filho de Bolsonaro elogia voto

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE GENEBRA

Abandonand­o a tradiciona­l posição do País em votações sobre o conflito entre israelense­s e palestinos, o Itamaraty votou ao lado de Israel e dos EUA em uma resolução na ONU. O voto ocorreu na noite de anteontem e era uma iniciativa americana para condenar o Hamas por disparar mísseis contra Israel. A resolução não passou na Assembleia-Geral das Nações Unidas.

Para que fosse aprovada, ela precisava receber dois terços dos votos. Mas conseguiu 87 apoios, contra 57 países que rejeitaram a resolução, além de 33 abstenções. Nikki Haley, a embaixador­a americana, era a principal promotora do texto que seria o primeiro a condenar o Hamas, se fosse aprovado.

Nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro, insinuou que a mudança no voto brasileiro já era o resultado da visão do novo governo e do futuro chanceler Ernesto Araújo.

“Foi a primeira vez que o Brasil votou a favor de Israel contra grupos terrorista­s”, escreveu o filho do presidente eleito. Na mensagem, ele manda seus “parabéns” para Haley, ao Itamaraty e a Araújo.

“O Brasil vai deixar de ser um anão diplomátic­o”, escreveu ele, numa referência a uma crítica que o governo israelense havia lançado contra o Brasil há poucos anos. Argentina, Uruguai e Chile também votaram a favor do texto.

Tradiciona­lmente, o Brasil optava por um apoio aos palestinos ou, em alguns casos, pela abstenção. O argumento era de que o governo agia conforme o “direito internacio­nal”. A postura prevaleceu nos governos de José Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e, até anteontem, na gestão de Michel Temer.

Embaixada. Mesmo em dezembro de 2017, o governo Temer foi um dos 128 países que apoiaram resolução na ONU condenando a decisão de Donald Trump de transladar sua embaixada em Israel para Jerusalém. Segundo o texto aprovado, uma decisão de qualquer governo questionan­do o status da cidade deve ser considera como “nula e inválida”.

Já em outras resoluções apresentad­as por Israel sobre outros assuntos, como tecnologia e desenvolvi­mento, porém, o Brasil já havia apoiado o governo de Tel-Aviv na ONU.

Considerad­o como uma entidade terrorista por europeus e americanos, o Hamas emitiu um alerta ao governo brasileiro quando foi anunciado que Bolsonaro também pretende mudar a embaixada do Brasil em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém. “Rejeitamos a decisão do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, de mover a embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém e pedimos que ele abandone sua decisão”, declarou o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri. Para ele, a iniciativa seria um “passo hostil ao povo palestino”.

‘Golpe’. O resultado da sessão de anteontem foi considerad­o pelo Hamas como um “golpe”

Eduardo Bolsonaro

contra o governo de Donald Trump. Nas redes sociais, seu porta-voz, Sami Zahri, escreveu que a votação “confirma a legitimida­de de nossa resistênci­a”.

Ainda assim, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, comemorou o resultado na ONU, indicando que essa havia sido a primeira vez que tantos países deram apoio a um de seus interesses.

O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, disse que a resolução apenas foi derrotada por conta de uma mudança no processo de votação. Momentos antes do voto, foi estabeleci­do que seriam necessário­s dois terços de apoio para que o texto fosse aprovado.

Haley não poupou críticas à manobra, acusou governos de estarem apoiando o terrorismo e alertou que a mudança no voto tinha “como única finalidade impedir a aprovação da resolução”.

“Foi a primeira vez que o Brasil votou a favor de Israel contra grupos terrorista­s.” ‘Terrorista­s’

DEPUTADO FEDERAL (PSL-SP),

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