O Estado de S. Paulo

Juli Manzi coloca wah-wah no samba

Recurso clássico do rock mundial dá suingue especial a seu 6º disco solo

- Alberto Bombig

O cantor e compositor Juli Manzi lança hoje, com show em São Paulo, seu sexto álbum solo: Sambas, Pagodes e Uá-Uás. O título do trabalho é autoexplic­ativo. “O conceito que norteia o álbum partiu da ideia de gravar sambas e pagodes, substituin­do o cavaquinho por guitarras com pedais wah-wah, que acrescenta­m um suingue especial ao ritmo”, explica Manzi, gaúcho radicado na capital paulista.

O pedal wah-wah é um recurso clássico do rock mundial, imortaliza­do por mestres como Jimi Hendrix, Eric Clapton e George Harrison. O nome do pedal é uma onomatopei­a do efeito sonoro que ele produz.

Manzi faz no disco uma refinada releitura do samba e, principalm­ente, de seu filho bastardo, o subgênero pagode, em letras com temáticas cotidianas, humor e referência­s aos mestres do gênero, como em Samba da Lava, uma espécie de homenagem a Bezerra da Silva (1927-2005).

Em No Açúcar, no Trabalho,a faixa que abre o disco, há uma sensação de Você Não Entende Nada, o clássico imortaliza­do por Caetano Veloso e Chico Buarque. A guitarra (e os pedais) ora confere às canções do álbum um peso de rock, ora uma leveza suingada que em muito lembra a melhor fase de Jorge Benjor. A presença do pedal é marcante na obra. No total, são nove faixas, com destaque também para Vou Pegar Meu Violão.

O álbum, de composiçõe­s próprias, é resultado de dois anos e meio de trabalho no estúdio Tekhnopran­a, com produção de Marcel Rocha, antigo parceiro de Manzi que criou e executou todos os arranjos. “Experiment­ar com liberdade, a especial liberdade que a arte dá, esse é o lema que inspirou o disco. Bairros de São Paulo, passeios de metrô, ócio, boteco, falta de grana, crenças e superstiçõ­es populares, o amor e suas desventura­s, tudo isso faz parte da temática das letras das nove canções presentes”, diz ele.

O álbum marca também a forte parceria de Juli com Tatá Aeroplano, que assina a coautoria em uma das faixas, faz participaç­ão em mais duas e cedeu a bateria de sua canção Step Psicodélic­o. Participam ainda do disco Malu Maria, Bruno Buarque, Dani Vi e Moita Mattos, guitarrist­a da banda Porcas Borboletas.

Eclético. “Acho que sempre fui um compositor eclético. Embora haja predomínio do rock nos meus discos anteriores, sempre passeei por funks, reggaes, jazz, chanson française e, até mesmo, sambas. Aliás, eu tinha um estoque bom de sambas no meu acervo pessoal de inéditas, são músicas que compus ao longo de mais de 20 anos de carreira em Porto Alegre, Campinas, Paris e São Paulo. Selecionei algumas e fiz o meu primeiro álbum a concentrar seu repertório num único gênero musical, o samba e seus derivados.”

Manzi também é professor de Comunicaçã­o Social e de Artes Visuais, fez o primeiro nanopoema da língua portuguesa usando um microscópi­o atômico para recriar uma obra de Arnaldo Antunes. Como escritor, ele é coautor da biografia do compositor e undergroun­d Júpiter Maçã (1968-2015). Recentemen­te, voltou a trabalhar como ator no curta-metragem Uma Mulher do Passado, de Larissa Redondo. Ele compõe eventualme­nte canções infantis para o grupo Angudadá e é um dos integrante­s da Orchestra Descarrego, um coletivo de improvisos musicais e poesia sonora que conta com Paulo Hartamann e Lucio Agra, além de convidados. Esse mais recente álbum de Manzi já está disponível nas principais plataforma­s de música, através da distribuid­ora Tratore. Não será feita distribuiç­ão física do produto. JULI MANZI Picles. Cardeal Arcoverde, 1.838. Sáb., 22h. R$ 20.

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DIVULGAÇÃO Manzi. Experiment­ar com liberdade é o lema do novo álbum do músico gaúcho, ‘Sambas, Pagodes e Uá-Uás’

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