PF apura se J&F repassou a Aécio R$ 128 milhões
Apuração aponta pagamentos ilícitos em troca de apoio político do senador tucano
A Polícia Federal apura supostos repasses, no total de R$ 128 milhões, do Grupo J&F para Aécio Neves (PSDB). Parte do valor seria destinada à compra de apoio político em 2014. O montante incluiria o pagamento de uma “mesada” de R$ 54 mil para o tucano de 2015 a 2017. Ele nega as acusações.
A Polícia Federal apura o repasse pelo Grupo J&F, dos irmãos Batista, de R$ 109,3 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), para a compra de apoio político para sua campanha presidencial nas eleições de 2014, em que saiu derrotado. Também investiga o pagamento de uma espécie de “mesada” ao tucano entre julho de 2015 e junho de 2017, no valor de R$ 54 mil. Em troca, segundo a PF, Aécio teria atuado em favor de benefícios fiscais à empresa. Ao todo, de acordo com as investigações, o grupo J&F teria pago propina de R$ 128 milhões de forma direta ou indireta ao senador e a seu grupo político entre 2014 e 2017.
Policiais federais realizaram buscas ontem em endereços ligados a Aécio, à sua irmã Andréa Neves, aos senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Antônio Anastasia (PSDB-MG) e aos deputados federais Cristiane Brasil (PTB-RJ), Benito Gama (PTB-BA) e Paulinho da Força (SD-PR). Os parlamentares são investigados na Operação Ross, um desdobramento da Patmos, de 2017.
As investigações indicam que os pagamentos mensais a Aécio teriam sido feitos por meio de notas fictícias de patrocínio à Rádio Arco Íris Ltda, sediada em Belo Horizonte (MG), o que caracterizaria lavagem de dinheiro. A rádio pertence a Andréa e a Inês Neves, irmã e mãe de Aécio. O senador foi oficialmente sócio da rádio até meados de 2016.
A PF também investiga o suposto repasse de R$ 109,3 milhões, pela J&F, para partidos que integraram a coligação de Aécio na eleição de 2014. Entre as siglas citadas como beneficiárias do dinheiro, estão PTB, Solidariedade, DEM, PTN, PSL, PTC, PSC, PSDC, PTdoB, PEN e PMN.
As apurações ainda apontam o pagamento de R$ 2 milhões para a campanha de Anastasia ao governo de Minas Gerais, que teria sido viabilizado mediante pedido de Aécio.
O tucano também teria solicitado, no primeiro trimestre de 2015, em encontro na residência de Joesley Batista, em São Paulo, R$ 18 milhões para a quitação de despesas eleitorais pendentes da campanha presidencial de 2014. De acordo com as investigações, o Grupo J&F adquiriu por R$ 17,3 milhões o prédio do jornal Hoje Em Dia, em Belo Horizonte (MG), a pedido de Aécio, como forma de beneficiar Flávio Jacques Carneiro, amigo do tucano e dono do jornal.
A PF aponta ainda uma quarta solicitação de vantagem indevida por Aécio a Joesley Batista, no primeiro semestre de 2016: R$ 5 milhões para supostamente pagar advogados. O pagamento, no entanto, teria sido recusado pelo empresário, segundo a investigação.
Em troca da propina, afirmam os investigadores, Aécio teria atuado em favor do grupo para a restituição de créditos fiscais
de ICMS, que totalizou R$ 24 milhões – sendo R$ 12,6 milhões relacionados à JBS/AS (Couros) e R$ 11,5 milhões à empresa Dagranja (SEARA). Aécio nega todas as acusações (mais informações nesta página).
Pedidos. A PF chegou a pedir medidas cautelares contra Aécio e demais parlamentares alvo
da operação de ontem, como recolhimento noturno, afastamento do mandato parlamentar e entrega dos passaportes. O pedido, porém, foi negado pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, que autorizou apenas as buscas. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, também se manifestou contra os pedidos
da PF. Em sua decisão, Marco Aurélio apontou “indícios de relação ilícita” do senador tucano com executivos do grupo J&F entre 2014 e 2017.
PSDB. A cúpula do PSDB vai pressionar o senador Aécio Neves (MG) a se afastar do partido, mesmo que seja temporariamente. Uma das ideias em estudo para evitar a expulsão de Aécio, eleito deputado federal, é que ele peça uma licença partidária. Em conversas reservadas, dirigentes tucanos avaliam que, se ele não fizer isso, acabará sendo obrigado a deixar a sigla.
A estratégia para evitar que a crise envolvendo Aécio aumente ainda mais o desgaste do PSDB foi discutida depois que a FP cumpriu mandados de busca e apreensão em imóveis de Aécio.
Ex-presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) acusou Aécio de “prejudicar o PSDB”. “Acho que Aécio já prejudicou muito o partido. E, se isso for comprovado (“mesada” para Aécio), é um negócio muito sério. Se essa mesada for realmente verdadeira, é uma questão séria”, afirmou.