E agora, como fica o Brexit?
Aprimeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, obteve nesta quarta-feira grande vitória, uma vez que o Partido Conservador rejeitou a moção de censura que colocou em discussão sua liderança. Isso significa que deve continuar como primeira-ministra pelo menos por mais 12 meses.
Mas a grande vitória política pode ser insuficiente para mudar o impasse em que se transformou o Brexit, o projeto de divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia. Depois de longas e intensas negociações, o resultado foi um pré-acordo que o Parlamento até agora se recusa a aprovar, sem que ninguém tenha apresentado proposta melhor.
O principal entrave é a fronteira entre as Irlandas. A Irlanda do Norte é território inglês. A Irlanda (do Sul), membro da União Europeia. Tratado de 1998, assinado depois de hostilidades que custaram milhares de vidas, garante livre fluxo de mercadorias e pessoas.
A solução encontrada foi um tapa-buraco provisório. Foi a definição de uma rede de segurança (backstop) que prevê controle sobre alguns produtos que atravessarem a fronteira, sem instalação de checagens rígidas. Essa decisão exigirá a criação de uma união aduaneira entre Reino Unido e União Europeia, regime que garante o livre fluxo da maior parte das mercadorias, mas atrela a política e o comércio exterior entre os dois lados. Ou seja, o Reino Unido fica impedido de negociar novos acordos comerciais com terceiros países e, além disso, tem de manter com eles o mesmo tratamento alfandegário adotado pela União Europeia. Os políticos ingleses têm razão em afirmar que a pretendida autonomia sai prejudicada. Além disso, trata-se de arranjo provisório que, sem outra solução, pode perpetuar-se e manter um quadro de incertezas que afugentam investimentos e derrubam a economia.
O Brexit tem de sair até 29 de março. Até lá, não há tempo para negociar outra saída. Se o plano May for rejeitado, sobram três opões. A primeira delas é a prorrogação do prazo de negociação. Mesmo se a União Europeia concordar com isso, será preciso saber que concessões relevantes até agora não arrancadas em um ano e meio de negociações podem ser obtidas. A segunda opção é a separação unilateral, sem acordo, com consequências econômicas desastrosas para o Reino Unido que, ademais, será obrigado a ativar a fronteira dura entre as Irlandas se quiser escapar do que os ingleses indignados chamam de “vassalagem à União Europeia”.
A terceira opção cada vez mais lembrada é a convocação de nova consulta popular. Mas consultar sobre o quê? Sobre se a população valida os termos desse pré-acordo ou sobre se desiste do Brexit, que irá empobrecê-la inexoravelmente? Mas o que fazer se for mantida a decisão da separação? Não foi essa a consulta feita em 2016 pelo então primeiroministro David Cameron, que desembocou no Brexit?
Essa confusão não se restringe à relação entre Reino Unido e União Europeia. O Brexit aconteceu porque, mais do que descontentes, a classe média inglesa está indignada com a perda de renda, a falta de perspectivas, a insegurança gerada por um Estado que promete, mas não entrega. E essa situação se espalha mundo afora. Foi a mesma indignação que elegeu Trump nos Estados Unidos, que enfraqueceu Angela Merkel na Alemanha, que deu força para movimentos nacionalistas xenófobos na França, na Espanha, na Áustria e por tantos países mais, inclusive no Brasil.