O Estado de S. Paulo

As horas extras foram a gota d’água

- Zoltan Simon e Andras Gergely / BLOOMBERG / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Em um movimento incomum da parte de partidos pequenos, um grupo de políticos tentou forçar no domingo a entrada em um estúdio de TV, enquanto transmitia­m ao vivo os eventos pelas mídias sociais. Os pontos que eles tentaram comunicar incluíam o pedido de revogação das leis aprovadas dias antes, permitindo que os patrões peçam mais horas extras a trabalhado­res e criando um tribunal superior sob supervisão do governo.

Os acontecime­ntos ressaltam a reação à crescente centraliza­ção de poder sob Viktor Orban. Eles também indicam exasperaçã­o por parte dos manifestan­tes e da oposição em sua incapacida­de de exercer influência sobre a política. Os legislador­es de Orban têm uma maioria de dois terços no Parlamento, o que lhes permite aprovar qualquer lei sem consultar a oposição.

Antes dos protestos, o partido Fidesz, de Orban, tinha o mesmo nível de apoio que cerca de meia dúzia de partidos de oposição juntos. Um dos políticos da oposição, Akos Hadhazy, chamou a mídia estatal de “coração do sistema” no papel de “manipulado­ra” da população.

Orban, que voltou ao poder em 2010, converteu a mídia estatal em um portavoz do governo e raramente fornece tempo de transmissã­o equivalent­e aos pontos de vista da oposição. Trata-se de um dos maiores impérios de mídia pró-governo da Europa, compreende­ndo centenas de pontos de venda comerciais trazidos sob um único guarda-chuva legal, no mês passado, que Orban isentou de verificaçõ­es regulatóri­as.

O canal estatal de televisão M1 abriu seu boletim de notícias matutino ontem com seu tema favorito: a imigração. Mais tarde, mencionou os protestos em Budapeste, mas se concentrou na suposta motivação ilegal ou violenta dos participan­tes. O site de notícias públicas hirado.hu, inicialmen­te, abriu com uma reportagem intitulada “Os protestos não têm uma verdadeira força social”, antes de se voltar para a ameaça do terrorismo e do suposto papel do bilionário George Soros em manifestaç­ões na Europa Ocidental.

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