À polícia, João de Deus diz que atendimentos são coletivos
Religioso nega abusos; depoimento foi marcado por fatos inusitados, como curto-circuito e falha em computador
A Polícia Civil divulgou ontem novos detalhes do depoimento do médium João de Deus. Segundo o delegado-geral, André Fernandes, o interrogatório resultou em sete páginas.
“Ele apresenta uma versão para cada fato e não confessa a prática destas ações (abusos ). Durante o depoimento, agiu de forma natural, respondeu a todas as perguntas e compreendeu as acusações a ele imputadas. Ele afirma que todos que iam naquela casa o faziam de forma voluntária, espontânea, que os atendimentos eram coletivos e não havia abusos”, disse Fernandes.
Ao todo, 15 mulheres foram ouvidas pela Polícia Civil. “O interrogatório não consegue superar as denúncias, as oitivas das mulheres que narraram de forma tão segura e detalhada o que viveram. Somado a outras provas que a polícia terá até o fim das investigações, o Poder Judiciário terá vastas informações”, declarou o delegado.
A TV Anhanguera teve acesso ao depoimento do líder religioso, em que ele destaca que “são as pessoas” que o procuram em busca de atendimento individualizado. Ou seja, não existiria nenhum tipo de interesse sexual na abordagem. Afirma ainda que sua sala particular tem porta transparente, que nunca fica trancada.
João de Deus também afirma ter sido alvo de ameaças, antes das acusações contra ele virem à tona. Por telefone, um homem teria dito: “Eu tenho 50 pessoas para acabar com você.”
Sobre o fato relatado pelo jornal O Globo, de uma retirada de R$ 35 milhões antes de se apresentar à polícia, disse tratar-se de pagamento a funcionários. E afirmou não se lembrar de todos os bens que possui.
Estranheza. Uma série de fatos inusitados causou desconforto nos profissionais da Polícia Civil de Goiás responsáveis por colher o depoimento do médium, desde uma falha “bizarra” no computador até um “curto-circuito” que queimou o frigobar do local.
Quando o escrivão tentou digitar as palavras do médium, o teclado do computador travou em uma letra específica. O outro fato foi um curto-circuito porque os policiais haviam ligado um frigobar e o ar-condicionado na mesma extensão.
Houve até quem colocasse no “pacote” o atropelamento de um escrivão da Polícia Civil de Goiás, horas antes do interrogatório. Isso porque o policial se dirigia à delegacia especializada para participar das atividades relacionadas à prisão de João de Deus. “Não foi nada que interferisse no trabalho”, disse Fernandes.