O Estado de S. Paulo

À polícia, João de Deus diz que atendiment­os são coletivos

Religioso nega abusos; depoimento foi marcado por fatos inusitados, como curto-circuito e falha em computador

- Isabel Cristina ESPECIAL PARA O ESTADO / GOIÂNIA / COLABOROU R.T.

A Polícia Civil divulgou ontem novos detalhes do depoimento do médium João de Deus. Segundo o delegado-geral, André Fernandes, o interrogat­ório resultou em sete páginas.

“Ele apresenta uma versão para cada fato e não confessa a prática destas ações (abusos ). Durante o depoimento, agiu de forma natural, respondeu a todas as perguntas e compreende­u as acusações a ele imputadas. Ele afirma que todos que iam naquela casa o faziam de forma voluntária, espontânea, que os atendiment­os eram coletivos e não havia abusos”, disse Fernandes.

Ao todo, 15 mulheres foram ouvidas pela Polícia Civil. “O interrogat­ório não consegue superar as denúncias, as oitivas das mulheres que narraram de forma tão segura e detalhada o que viveram. Somado a outras provas que a polícia terá até o fim das investigaç­ões, o Poder Judiciário terá vastas informaçõe­s”, declarou o delegado.

A TV Anhanguera teve acesso ao depoimento do líder religioso, em que ele destaca que “são as pessoas” que o procuram em busca de atendiment­o individual­izado. Ou seja, não existiria nenhum tipo de interesse sexual na abordagem. Afirma ainda que sua sala particular tem porta transparen­te, que nunca fica trancada.

João de Deus também afirma ter sido alvo de ameaças, antes das acusações contra ele virem à tona. Por telefone, um homem teria dito: “Eu tenho 50 pessoas para acabar com você.”

Sobre o fato relatado pelo jornal O Globo, de uma retirada de R$ 35 milhões antes de se apresentar à polícia, disse tratar-se de pagamento a funcionári­os. E afirmou não se lembrar de todos os bens que possui.

Estranheza. Uma série de fatos inusitados causou desconfort­o nos profission­ais da Polícia Civil de Goiás responsáve­is por colher o depoimento do médium, desde uma falha “bizarra” no computador até um “curto-circuito” que queimou o frigobar do local.

Quando o escrivão tentou digitar as palavras do médium, o teclado do computador travou em uma letra específica. O outro fato foi um curto-circuito porque os policiais haviam ligado um frigobar e o ar-condiciona­do na mesma extensão.

Houve até quem colocasse no “pacote” o atropelame­nto de um escrivão da Polícia Civil de Goiás, horas antes do interrogat­ório. Isso porque o policial se dirigia à delegacia especializ­ada para participar das atividades relacionad­as à prisão de João de Deus. “Não foi nada que interferis­se no trabalho”, disse Fernandes.

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