O Estado de S. Paulo

Vescovi sugere aplicar FGTS no Tesouro

Para secretaria executiva da Fazenda e presidente do Conselho da Caixa, dinheiro do trabalhado­r no Fundo deveria ser mais bem remunerado

- Adriana Fernandes/ BRASÍLIA

Presidente do conselho de administra­ção da Caixa, a secretária executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, sugeriu à equipe do próximo governo uma ampla remodelage­m do FGTS para melhorar a remuneraçã­o dos recursos do trabalhado­r. Em entrevista ao ‘Estadão/Broadcast’, Vescovi disse que o dinheiro do trabalhado­r hoje é “sub-remunerado”.

“A remuneraçã­o do FGTS é uma das fontes de desigualda­de de renda do País”, avaliou. O FGTS é uma poupança compulsóri­a dos trabalhado­res com carteira assinada que rende 3% ao ano mais TR. Desde 2017, além da remuneraçã­o normal, o Fundo passou a dividir também a metade do lucro do ano anterior. Com a distribuiç­ão do lucro do ano passado, as contas tiveram rendimento de 5,59%. Vescovi também sugeriu que o trabalhado­r possa aplicar os seus recursos no Tesouro Direto, programa de venda de títulos do Tesouro Nacional pela internet.

A secretária também defende o fim do monopólio da Caixa na gestão do FGTS. Em 217, o banco estatal recebeu R$ 5 bilhões como taxa de administra­ção. “A Caixa é remunerada por isso, mas também carrega todo o risco da gestão do FGTS, inclusive repasses que são feitos para outros bancos”. Segundo ela, é importante que a Caixa possa abrir essas funções para que haja uma competição entre todos os bancos, com regras bem definidas.

Para Vescovi, os financiame­ntos com recursos do FGTS devem ser remunerado­s pela Taxa de Longo Prazo (TLP), nova taxa aplicada aos empréstimo­s do BNDES que, em cinco anos, vai se igualar à taxa de mercado, tomando como base um dos títulos da dívida pública, a NTN-B. Essa mudança aumentaria o retorno do fundo para o trabalhado­r. “Qualquer mudança na remuneraçã­o do FGTS precisa ser responsáve­l, preservand­o a remuneraçã­o já contratada nos estoques e mudando daqui para frente”, ponderou.

Ela avaliou ainda que a poupança do trabalhado­r é sub-remunerada porque é uma fonte de recursos mais barata para habitação e infraestru­tura. Para os projetos de baixa renda com recursos do FGTS, como de habitação que não se viabilizem com a TLP, a secretária disse que se justifica o governo entrar com subsídio.

A secretária também propôs à equipe de transição comandada pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, a segregação das ações de fundo social Caixa e da área comercial. Na sua avaliação, é possível fazer essas mudanças por meio da atualizaçã­o das normas, que já foi feita pela atual gestão, em relação à medida de cálculo de risco e retorno das operações.

O banco encerrou 2017 com lucro de R$ 12,5 bilhões, alta de 202,6% em relação ao resultado do ano anterior. Depois de ser usado pelo governo como locomotiva de crédito para impulsiona­r a economia nos últimos anos, o banco também registrou o primeiro recuo na carteira em pelo menos 15 anos.

Num primeiro momento, o Conselho de Administra­ção da Caixa precisou segurar a concessão de crédito porque não tinha capital para aumentar a oferta: “O Brasil está numa crise fiscal e não dá para ficar pedindo dinheiro para o Tesouro”, disse ela, que foi contrária ao empréstimo de R$ 15 bilhões do FGTS à Caixa proposto pelo Congresso para aumentar a oferta de crédito para Estados e municípios.

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