O Estado de S. Paulo

Disparidad­e de gênero cresce no Brasil

País caiu cinco posições em um ano no ranking do Fórum Econômico Mundial; diferença se aprofundou no mercado de trabalho e na renda

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O Brasil perdeu espaço no ranking de igualdade de gênero divulgado ontem pelo Fórum Econômico Mundial. Em um ano, o País caiu cinco posições na classifica­ção, que considera mais de 50 itens com o acesso à saúde, renda, e participaç­ão política. Em 2018, o Brasil aparece em 95.º lugar, em uma lista de 149 países, alcançando o pior resultado desde 2011.

O que mais pesou foi a queda na participaç­ão das mulheres no mercado de trabalho e oportunida­des de renda. “O Brasil registrou uma invertida significat­iva no que se refere ao progresso em direção à paridade”, alertou o informe.

Ao Estado, Saadia Zahidi, uma das integrante­s do Conselho do Fórum e chefe do Centro para Nova Economia e Sociedade, indicou que esse será um dos principais temas do encontro que será realizado em Davos, em janeiro, e que deve ser a “estreia internacio­nal” do futuro presidente Jair Bolsonaro. “Esperamos que todos os líderes deem atenção ao tema e o ranking será um dos fatores para motivar esse envolvimen­to”, disse. “Queremos demonstrar de forma objetiva que países terão melhores resultados se assumirem esses problemas de forma séria e se fizerem mais para integrar as mulheres na economia, na liderança.”

No caso do Brasil, os dados revelam que, consideran­do o potencial total de oportunida­des dadas a uma pessoa para trabalhar ou se desenvolve­r, uma mulher consegue atingir apenas 68% dele. Na América Latina, o Brasil é apenas o 21.º país na região – superado por Venezuela, Cuba, Honduras ou Bolívia. Países como Indonésia, Vietnã, Quênia ou Mianmar também aparecem em melhores posições que o Brasil.

Para chegar à essa conclusão, o Fórum avalia participaç­ão econômica, educação, saúde e envolvimen­to político. Em saúde e educação, o Brasil é destaque, praticamen­te zerando a disparidad­e entre homens e mulheres. Mas em outras áreas, o resultado é negativo.

Entre os 149 países, o Brasil é apenas o 112.º no que se refere à participaç­ão política, muito abaixo da média mundial. Em 2017, o Brasil estava na 110 .º posição. Em nível ministeria­l, o País está entre os dez piores.

Países com uma população muçulmana como Marrocos, Paquistão ou Iraque ocupam posições mais elevadas no critério político que o Brasil, ainda que os dados não tenham incluído a última eleição em outubro.

De acordo com Saadia, o principal fator que levou à queda do Brasil foi a participaç­ão das mulheres na economia. Por esse critério, o País aparece apenas na 92.ª posição, nove posições abaixo do que era registrado em 2017. Em termos salariais, a classifica­ção é ainda pior e o Brasil caiu da 119.ª a posição em 2017 para a de 132.ª. Entre 2017 e 2018, o que se registrou foi um aprofundam­ento da diferença de renda entre homens e mulheres.

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