O Estado de S. Paulo

Guedes quer cortar metade dos repasses ao Sistema S

Medidas imediatas. Equipe do futuro ministro da Economia já estuda cortar pela metade os recursos que sustentam entidades como Sesi, Sesc e Senac, comandadas por confederaç­ões empresaria­is; no ano passado, elas tiveram orçamento de R$ 16,5 bilhões

- Vinicius Neder Fernanda Nunes/ RIO Adriana Fernandes / BRASÍLIA COLABOROU CLEIDE SILVA

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, quer cortar pela metade os repasses para o Sistema S, comandado pelas confederaç­ões empresaria­is e que inclui Sesi, Sesc e Senac. As entidades são custeadas por impostos pagos pelas empresas. “Tem que meter a faca no Sistema S”, afirmou Guedes a empresário­s ontem.

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, determinou à sua equipe a meta de cortar pela metade os recursos que são repassados ao Sistema S, que inclui entidades como Sesi, Sesc e Senac, comandadas pelas confederaç­ões empresaria­is do País. Ontem, durante uma palestra no almoço de fim de ano da Federação das Indústrias do Rio (Firjan), ele foi enfático ao defender a redução. “Tem que meter a faca no Sistema S”, disse a uma plateia de empresário­s.

O economista Marcos Cintra, que vai comandar a secretaria especial da Receita Federal, afirmou ontem ao Estadão / Broadcast, que o processo será gradual, mas vai começar “imediatame­nte”. “Muito do que o Sistema S faz pode ser feito pelo mercado de forma competitiv­a. Preservare­mos as atividades com caracterís­ticas de bens públicos”, disse. Segundo ele, o futuro governo pretende desonerar a folha de salários das empresas para estimular empregos.

O Sistema S foi concebido na década de 1940 para promover capacitaçã­o de mão de obra, cultura e lazer para o trabalhado­r. Custeado pela contribuiç­ão das empresas, passou a ser administra­do pelas federações patronais, que recebem uma espécie de “taxa de gestão”. Uma parte das contribuiç­ões e tributos que as empresas pagam sobre a folha de pagamento é repassada para as entidades do Sistema S. O dinheiro deve ser usado para treinament­o profission­al, assistênci­a social, consultori­a, pesquisa e assistênci­a técnica. Neste ano, foram repassados R$ 17,1 bilhões. Em 2017, R$ 16,5 bilhões.

Os gastos são todos executados pelo setor privado – os dirigentes das entidades são indicados pelas próprias entidades empresaria­is. Especialis­tas em orçamento costumam criticar a falta de transparên­cia na aplicação dos recursos do Sistema S.

Procuradas, a Confederaç­ão Nacional do Comércio (CNC), Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) e Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a (CNA) não quiseram comentar as declaraçõe­s de Paulo Guedes.

Em setembro, ao ser eleito para a presidênci­a da CNC, José Roberto Tadros, afirmou ao Estado que faria uma defesa do Sistema S ao futuro governo. “É preciso lembrar a eles que se trata de recursos privados que são empregados pelas confederaç­ões dos setores da economia em ações que deveriam caber ao Estado. Ou seja, assumimos esse papel sem ônus algum para o governo”, disse na ocasião.

Ontem, ao falar para os empresário­s, Guedes fez uma referência ao fim do imposto sindical, incluído na reforma trabalhist­a pelo governo Michel Temer – que comprou uma briga ao mexer com o financiame­nto dos sindicatos de trabalhado­res, mas deixou de lado o custeio do serviço social das entidades empresaria­is.

‘Cortar pouco’. “Vocês estão achando que a CUT (Central Única dos Trabalhado­res) perde o sindicato, mas aqui fica tudo igual? O almoço é bom desse jeito, ninguém contribui?”, completou, arrancando aplausos da plateia de cerca de 400 pessoas, que almoçaram moqueca de filé de peixe com purê de banana-da-terra.

O futuro ministro disse que é possível “cortar pouco, para não doer muito”. “Se tivermos interlocut­ores inteligent­es, preparados, que queiram construir, como o (presidente da Firjan,) Eduardo Eugenio (Gouvêa Vieira), cortamos 30%. Se não tiver, é 50%”, disse Guedes em tom de brincadeir­a. /

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: RECEITA FEDERAL

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