O Estado de S. Paulo

Defesa de médium tenta desqualifi­car denúncias de abuso

Toron diz que mulher tem passado ligado a prostituiç­ão e extorsão; Ministério Público já recebeu mais de 500 relatos contra o médium

- Renan Truffi ENVIADO ESPECIAL / GOIÂNIA

A defesa de João Teixeira de Faria, o João de Deus, vai fazer uma devassa nos depoimento­s das vítimas, para tentar tirar o crédito das acusações e conter a enxurrada de denúncias. Mais de 500 mulheres acusam o líder espiritual de abuso sexual e 30 novos depoimento­s já foram formalizad­os – eles podem se tornar inquéritos contra o médium.

A defesa do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, acusado de abuso sexual e preso anteontem perto de Abadiânia (GO), pretende fazer uma devassa em depoimento­s das vítimas para tentar tirar o crédito de acusações. O esforço, liderado pelo criminalis­ta Alberto Toron, que entrou ontem com pedido de habeas corpus, tenta conter a enxurrada de denúncias. Já Ministério Público de Goiás disse ter recebido mais de 500 relatos de supostos abusos – 30 depoimento­s já foram formalizad­os e podem se tornar inquéritos.

Diante das acusações, Toron tem repetido que é preciso analisar “o contexto” das denúncias contra seu cliente para saber se o depoimento de algumas dessas mulheres têm “crédito ou não”. Quando argumenta, o advogado cita como exemplo o depoimento de Zahira Leeneke Maus, uma coreógrafa holandesa que falou ao programa Conversa com Bial, da TV Globo. A reportagem deu início à série de denúncias que levou à detenção do líder espirital.

De acordo com Toron, a vítima teria um passado ligado à prostituiç­ão e à extorsão. “A comprovaçã­o desses e de outros fatos, se pessoas querem se aproveitar para pedir dinheiro ou não, se o passado dela a compromete ou não, tudo isso vai ter de ser analisado corretamen­te a partir da crítica a esses depoimento­s.”

A defesa do médium disse que só teve acesso ao processo, que corre em segredo de Justiça, ontem. Mas nega que a intenção seja fazer qualquer tipo de “jogo sujo”. “Jogo sujo é alguém acusar falsamente outra pessoa de uma prática tão grave, o que estou querendo dizer, sem jogo sujo, é que precisamos fazer um escrutínio calmo para não linchar uma pessoa sem direito de defesa”, afirmou.

Opções. Caso o habeas corpus seja negado, a estratégia da defesa será pedir que se adotem medidas cautelares, em vez da prisão. Entre as opções cogitadas estão prisão domiciliar, colocação de tornozelei­ra e a proibição de exercer o ofício. “São medidas que acautelam o meio social, que preservam a possibilid­ade da prática de novos crimes, se é que eles existiram, com um método menos invasivo”, explicou Toron.

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ERNESTO RODRIGUES / ESTADAO-16/12/2018 Detento. Advogado entrou com habeas corpus e sugeriu prisão domiciliar ou tornozelei­ra

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